A executiva Josiane Palomino, CEO da Sou Vagalume, é a convidada do Papo Solar desta semana. Com ampla experiência nas áreas de infraestrutura e energia, a economista fala da atuação no mercado da joint venture criada pela Comerc Energia e pela gestora de fundos Pefin.
Além disso, Josiane comenta o crescimento da presença feminina no mercado de renováveis e compartilha sua trajetória no segmento fotovoltaico.
Como iniciou a sua trajetória profissional no setor de energia solar?
Durante o meu mestrado eu comecei a trabalhar com energia elétrica. Inicialmente, a minha dissertação de mestrado estava focada mais na parte de estruturação financeira de fontes termelétricas de biomassa, que na época era uma fonte que estava em ascensão, mas por conta de uma oportunidade que surgiu de uma empresa do interior.
Acabei mudando o meu tema de dissertação para a formação de preços no mercado livre e usei muito o PLD como base. Depois que eu terminei o mestrado, eu acabei vindo trabalhar na Comerc, onde completo 11 anos em 2021.
Qual é o tema que você enfatiza no mundo acadêmico para quem atua no setor elétrico do Brasil?
Falando de setor elétrico, um assunto que está bem evidente atualmente é a alteração da formação de preço, justamente o que eu estava falando do PLD. Nós tivemos uma mudança grande, no começo desse ano, que foi o início do PLD horário. É perceptível uma presença muito grande de acadêmicos no setor elétrico com foco na análise de formação de preços, porque é uma análise feita com base em modelagem estatística, computacional. Nós vemos muitas pessoas que migram do meio acadêmico para análise e estudo de preço. Inclusive, tenho uma grande amiga que trabalha com isso, é a Juliana Chade, ela é gerente na parte de preços na MegaWhat consultoria. O movimento que eu mais vejo, de fato, no setor elétrico do mundo acadêmico é da análise de formação de preço.
Qual é o modelo de negócio da Sou Vagalume?
A Sou Vagalume surgiu de uma parceria entre a Mori Energia e a DOC 88, braço de tecnologia do grupo Comerc. A Mori tem a expertise e o foco no desenvolvimento de plantas solares. Seu pipeline de geração é focado em Minas Gerais, na construção da Cemig. Esta joint venture surgiu para trabalhar o compartilhamento de energia.
Estamos falando de um modelo de negócio que tem como foco a GD compartilhada. A Mori tem o desenvolvimento de plantas solares 100% e nós temos a missão de conectar as duas pontas, a geração e as usinas da Mori com o consumo.
O nosso papel, como Sou Vagalume, é compartilhar energia renovável, fazer essa ponte entre os consumidores e geradores e democratizar o acesso a essa categoria de energia. Nós temos como missão, como propósito, levar a possibilidade de escolha da energia renovável para o maior número de pessoas, sempre associado ao conceito da sustentabilidade e a possibilidade de economizar na conta de luz.
A atuação da Sou Vagalume é restrita só ao estado de MG? Existe um plano de expansão para outros estados?
Começamos em Minas Gerais, que foi onde, inclusive, a nossa acionista Mori começou as atividades, mas existem planos de expansão para outras localidades e para outras distribuidoras.
Hoje, como possuímos um grande número de usinas se conectando na concessão da Cemig, temos como foco o lançamento de empresas nessa região, sem perder de vista outras oportunidades em outros estados, que esperamos ter em breve.
Qual a relevância da Sou Vagalume para o mercado de Minas Gerais?
A Sou Vagalume tem o propósito de conectar as pontas. Queremos focar na experiência do cliente. Então, é uma empresa que valoriza o relacionamento, o bom atendimento, a facilidade do cliente ao usar a nossa plataforma e adquirir os nossos produtos/serviços.
Estamos falando de uma contratação que leva economia para esses consumidores. Esperamos agregar e levar informação do que é a geração distribuída compartilhada, mostrar para os consumidores de MG, e também de outras localidades, como esse produto funciona, como podemos usufruir desse benefício em conjunto e, além disso, fazer com que a experiência desse consumidor seja muito feliz e muito simples.
Nós queremos, com essa democratização do acesso à energia solar, levar uma experiência de facilidade e de uma jornada sem grandes complicações, sem burocracia.
A Sou Vagalume, tem uma estrutura de desenvolvimento de plataforma própria, essa é a grande expertise que a DOC88 trouxe para o negócio e justamente por termos esse foco na jornada do cliente. Nós queremos que o cliente seja protagonista desta contratação e tenha total autonomia para tomar as suas decisões.
Josiane, como a Comerc contribui? É a sociedade entre a Mori e a Comerc que proporciona a plataforma de tecnologia, mas como que a expertise da Comerc pode especializar esse projeto no Brasil?
A grande expertise que a Comerc coloca nesse negócio, está na maneira em que nós priorizamos esse cliente. Todo o histórico da Comerc como setor elétrico, como uma gestora de energia com foco no mercado livre e com outros negócios, como uma empresa de eficiência energética que é a Nexo, é feito essa gestão de consumidores livres e também de geradores, existem duas comercializadoras de energia, a Newcon e a COMERC Trading.
Todas essas empresas têm um ponto em comum que é o cliente no centro da operação, existe a preocupação de colocar o cliente como a nossa prioridade, tudo o que fazemos, no final do dia, tem o viés de atender bem o cliente. E é esse DNA que trouxemos para a Sou Vagalume. O papel da Comerc nesse negócio é trazer essa expertise de mercado, o conhecimento regulatório do setor e o foco do centro do negócio sendo o cliente.
Se algum empresário tiver interesse em investir na construção de uma usina, existe a possibilidade?
Na Sou Vagalume diretamente, ainda não. Nós estamos lançando a marca agora, lançando a plataforma com esse foco em MG, mas temos como objetivo se desenvolver para que possamos atender outras usinas dentro do nosso portfólio.
Ao construir essas pontes entre geradores e consumidores, também podemos receber outras usinas de outros empreendedores que possam nos levar a outros lugares.
Agora, falando do setor elétrico em todo o país, com a sua experiência nesta área, como que você avalia o crescimento da energia solar no mercado brasileiro?
A energia solar no mercado brasileiro é uma realidade que veio para ficar. Das fontes que nós temos disponíveis hoje no Brasil, é a fonte que mais tem mostrado potencial de crescimento. Ao longo de 2020, a energia solar teve um crescimento muito grande em questão de potência instalada, inclusive em GD, não só em geração centralizada, e nós vimos através da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar), que tem indícios de 2021 ser um ano que trará ainda mais investimentos.
No ano passado, a ABSOLAR divulgou que aconteceu um recorde de investimentos em fonte solar, de R$ 13 bilhões, se formos olhar um horizonte de 8 anos, estamos falando de um crescimento de aproximadamente 52%. Ainda em 2020, podemos perceber que existiu uma arrecadação muito grande, em torno de R$ 4 bilhões.
Nós vemos ser um setor que tem muita oportunidade e tem muito a agregar economicamente, é uma fonte que vem se desenvolvendo, que, acredito eu, continuará se desenvolvendo. Penso que, nós somos um país com regiões muito prósperas para esta geração, de investimento, isso sem contar, com o desenvolvimento da geração centralizada. Nós tivemos um “boom” de crescimento ao longo de 2020, que surpreendeu por conta da pandemia, mas nós vimos muitas empresas e pessoas investindo em energia solar, até como uma forma de buscar economia, quando falamos de GD.
Então, na minha opinião, a solar é uma fonte que está só começando, acredito que tem muito ainda para agregar e tem muita coisa para fazer.
No mês de março celebramos o dia da mulher. Qual é a sua visão da participação feminina no setor elétrico?
Na minha avaliação é perceptível o crescimento de mulheres em cargos de liderança e decisão, mas ainda tem muito espaço para podermos observar esse crescimento da presença feminina no mercado.
Possuímos grandes referências no setor elétrico, grandes mulheres com papéis extremamente relevantes e falando do mercado renovável. Em geral, temos a Elbia Gannoum na eólica, temos a Babi na ABSOLAR, entre tantas outras que se fazem presentes no dia-a-dia do setor elétrico.
Mas acredito que nós ainda temos um caminho a percorrer para que esse número seja ainda maior. Apesar de já vermos um crescimento, sabemos que tem muito espaço que pode ser ocupado por mulheres, torço para isso acontecer.
É sempre muito bom ver o aumento da força feminina no mercado de trabalho, de maneira geral, no setor elétrico e mais ainda quando falamos de renováveis, que é um assunto que está tão evidente. Quando se olha para os investimentos com foco em ESD, que tem aquela característica de meio ambiente, sustentabilidade, governança, é fundamental a presença de papéis femininos que assumam essas posições e que tragam cada vez mais informações e mais detalhes desse dia-a-dia para que nós possamos ter uma participação mais relevante.
Está mais que comprovado que um ambiente diverso tem muito a contribuir com todos os negócios, de maneira geral, não estamos falando só do setor elétrico e do setor renovável, estamos falando de negócios.
Quando falamos de ambientes que tendem a pensar muito parecido, é muito difícil ter alguma discussão, alguma visão que de repente corrija uma rota. Então, a diversidade vem com esse papel, porque tem diferentes mentes, com diferentes histórias e talentos, todos contribuindo e agregando para que tenham visões distintas, para que possam crescer nas diferenças e nas nossas compartimentalizadas. Penso que, um desses quesitos é a questão da presença feminina que traz essa discussão para a mesa.