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Monalisa Gomes: ‘Se vou de salto alto ou de sapato, quem senta ali na minha cadeira vai ter que fazer o mesmo trabalho’

Em meio a tantas dificuldades e limitações de recursos financeiros, consegui me formar em ciências

Autor: 24 de março de 2020outubro 3rd, 2020Entrevistas
6 minutos de leitura
Monalisa Gomes: ‘Se vou de salto alto ou de sapato, quem senta ali na minha cadeira vai ter que fazer o mesmo trabalho’

Monalisa Gomes, presidente da Fronius do Brasil, é a convidada do podcast Papo Solar. Ela comentou sobre a sua história de superação e os desafios de comandar uma empresa multinacional. 

Monalisa, conta um pouco sobre sua história de vida e como iniciou a sua carreira profissional.

Eu vim de uma família simples e humilde da cidade de São Paulo. Durante toda minha infância e adolescência, morei em periferia e estudei em colégio público. Aos 19 anos, tive o grande desafio de me tornar mãe solteira e isso me ajudou a amadurecer e a crescer muito rápido. Já trabalhei em loja, comércio, em empresa de cobrança e na oficina de costura da minha mãe.

Em meio a tantas dificuldades e limitações de recursos financeiros, consegui me formar em ciências contábeis. Na minha família sou a primeira pessoa que teve uma formação superior. No meu último ano de faculdade fui convidada a trabalhar na Fronius na área contábil. Estou na empresa desde 2006 e sempre foi meu sonho trabalhar em uma multinacional. 

Como foi a experiência de ser mãe e conciliar com a faculdade e trabalho?

Foi bem desafiador. Já teve casos de passar o dia com a minha filha no hospital e a noite ter que ir para a faculdade fazer prova. Mas isso são coisas que me fizeram amadurecer, que me fizeram olhar para as pessoas de uma forma mais humana. Me trouxe experiência, resiliência, um olhar de compaixão para algumas situações que hoje me orgulho muito do que aprendi.

Acho que tive a sorte também de sempre ter tido pessoas boas ao meu lado que me ajudaram no caminho. Sempre fui muito persistente e nunca me abati por causa de um não. Sempre busquei entender aquele motivo e tirava forças da onde eu podia para superar meus desafios. Falo para a minha filha que ela foi o maior impulsionador da minha carreira, de eu ser quem eu sou quem sou hoje, pois ela fez eu pisar no chão muito cedo.

Você comentou que foi uma das poucas que fizeram faculdade na sua família. Eles viam você como um exemplo?

Sim. É muito bacana. Tenho tias, por exemplo, que depois de bem mais velhas voltaram para a faculdade. Antes elas eram costureiras e agora são professoras, enfermeiras. Elas foram buscar uma formação. Meus primos também. Tenho uns que foram trabalhar na mesma área que eu. A minha família então sempre buscou em mim uma referência. Isso me dava mais força e responsabilidade. Foi impulsionador porque olhava e via que tenha gente que se inspirava em mim.

Você é hoje presidente da Fronius do Brasil. Como está sendo essa experiência? 

A Fronius, no final de 2016, me fez o convite para assumir a presidência aqui no Brasil. Até então, esse posto foi ocupado por um homem austríaco. Eu tinha o grande desafio de ser a primeira brasileira a liderar a empresa no Brasil, sendo mulher e negra. Às vezes você escuta um comentário sexista. Por exemplo: nossa você é tão jovem e bonita e já é diretora. Eu levo esses comentários para o lado cômico, não me diminuo, mas também não deixo isso tomar forçar e crescer. Eu estudei muito, sou inteligente e entrego o trabalho.

Às vezes as pessoas não fazem isso na maldade. É que já está tão embutido na sociedade que nós ainda não percebemos o quanto ela é machista e conservadora. Pensam que os cargos femininos estão atrelados a funções básicas de mulher. Vejo que usam jargões, que há um preconceito, mas eu sempre procuro me posicionar de forma assertiva e coerente sem deixar de perder a elegância e a feminilidade.

É muito árduo ser reconhecido como mulher, porém a forma com que lidamos com isso é que vai trazer um resultado diferente. Eu não me abalo porque sei quem eu sou. Sou maior que as adversidades. Se vou de salto alto ou de sapato, quem senta ali na minha cadeira vai ter que fazer o mesmo trabalho.

Qual foi o seu maior desafio dentro da Fronius?

Foi posicionar a Fronius no grupo e no mercado solar. A empresa começou, em 2012, ainda muito pequena no setor. Quando assumi, de 30 subsidiárias éramos a 26ª. Para mim, o maior case de sucesso foi entender o mercado e olhar para as três unidades de negócio (tecnologia de soldagem, carregadores para baterias e energia solar) e preparar uma equipe capacitada. Hoje, somos a terceira maior subsidiária do grupo. Passamos os Estados Unidos e estamos somente atrás da Alemanha e Austrália. Meu maior case então foi posicionar a Fronius como referência, com relação a produtos, serviços, estrutura e organização. O meu orgulho é ver onde a empresa está hoje e chegar ainda um dia na primeira posição do grupo.

Qual a mensagem que você deixa para a profissional que está começando agora no setor de energia solar ou em outra área?

Primeiro de tudo: vulnerabilidade. Aceitar que não somos super mulheres. Não podemos se comparar e querer se melhor. Precisamos fazer o nosso melhor e aprender com as adversidades. Acredito que a excelência vem através de esforço, dedicação e não se deixar abater. As dificuldades estão aí para todo mundo. Temos que acreditar na força que a mulher tem.

Temos um sexto sentido e isso faz toda a diferença na hora de liderar um negócio e exercer a profissão. É importante olhar sempre com sabedoria, resiliência,  paciência e construir o caminho sempre pautado em ética, profissionalismo e posicionamento. Para mim é essencial o sorriso e a leveza. Isso abre portas e permite que o caminho seja mais tranquilo para termos discernimento e tomar as melhores decisões.

Mateus Badra

Mateus Badra

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020. Atualmente, é Analista de Comunicação Sênior do Canal Solar e possui experiência na cobertura de eventos internacionais.

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