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Eletrificação do transporte é a chave para descarbonização

Wood Mackenzie aponta também que o setor de construção é essencial para reduzir as emissões de C02
Eletrificação do transporte é a chave para descarbonização

Os setores de transporte e construção são responsáveis ​​por 33% das emissões globais de CO₂, tornando a eletrificação desses segmentos a chave para a descarbonização. Esta é a análise de Ben Hertz-Shargel, chefe global de Grid Edge da Wood Mackenzie.

De acordo com o especialista, o transporte terrestre é o maior mercado para eletrificação. “À medida que os custos da bateria continuam a diminuir, o mesmo acontecerá com o custo inicial dos VEs (veículos elétricos), tornando-os competitivos”. 

“Regulamentações adicionais e ‘ventos’ favoráveis ​​ESG (Environmental, Social and Governance) incluem compromissos de eliminação gradual de motores de combustão interna, programas de crédito de veículo com emissão zero – que geram receita para fabricantes de VEs – e padrões de combustível de baixo carbono”, apontou. 

“Assim, é importante que os países acertem no que diz respeito à futura propriedade de automóveis, para que a infraestrutura de cobrança do cliente e da concessionária não seja construída para o modelo errado e, em seguida, isolada”, ressaltou o executivo. 

Na visão dele, alcançar isso em escala exigirá a identificação de incentivos financeiros e de conveniência adequados para os clientes, enquanto gerencia o que hoje é uma colcha de retalhos de hardware, software, protocolos de comunicação e redes de cobrança. 

“Uma solução dimensionada não apenas evitará que o carregamento de carros eletrificados cause danos, mas também alinhará melhor o carregamento com a produção de energia limpa, reduzindo os preços da mesma”, acrescentou. 

Adalberto Maluf, diretor de Marketing e Sustentabilidade da BYD, também discorreu sobre o assunto e destacou que – com a reafirmação do objetivo de neutralidade de carbono da Europa em 2050 e os recentes anúncios dos Estados Unidos, China e Índia para redução da emissão – a eletromobilidade se tornou uma das principais apostas globais para reduzir os poluentes, tanto locais quanto gases do efeito estufa.

“A Europa, a partir de 2035, por exemplo, está proibindo a venda de veículos movidos a combustão. Semana passada, o presidente dos EUA anunciou a meta de 50% de VEs até 2030. Já a China, continua com suas metas extremamente ambiciosas”, pontuou. 

“O ano de 2021 marca o grande salto da venda de VEs no mundo, associado com projetos renováveis – o que deve fazer com que o setor continue a crescer mais de 150%, 200% esse ano, assim como vimos no primeiro semestre de 2021, que obteve uma alta de 149%”, finalizou.

Tecnologia V2G 

Outro ponto enfatizado por Hertz-Shargel é que as emissões adicionais e benefícios relacionados ao custo dos VEs podem ser desbloqueados por meio da tecnologia V2G (Vehicle-to-Grid), por meio da qual os veículos descarregam energia de volta para a rede para impulsionar o fornecimento em momentos de alta demanda.

“Isso oferece a possibilidade de futuras frotas atuando como recursos massivos de armazenamento de curta duração para a rede, preenchendo quando a produção de renováveis ​​variáveis ​​diminui”, relatou. 

“Este serviço será fundamentalmente limitado pela disponibilidade do carro – o fator de capacidade da frota – bem como pelo impacto da ciclagem adicional nas baterias, que afeta a vida útil do ativo, bem como potencialmente sua garantia. A questão de um bilhão de dólares é se as frotas de VEs habilitados para V2G substituirão as baterias estacionárias como provedoras de armazenamento de várias horas para os mercados de eletricidade”, indagou. 

Eletrificação do edifício 

Para o chefe global de Grid Edge da Wood Mackenzie, embora não seja uma fonte de emissões tão grande quanto o setor de transporte, os edifícios são responsáveis ​​por 10% das emissões globais de CO₂ e, portanto, essenciais também para a descarbonização.

Segundo o analista, o aquecimento do espaço e da água são os alvos principais, devido à dependência frequente da combustão de óleo ou gás. “Por exemplo, a tecnologia da bomba de calor é mais eficiente em termos de energia que os fornos e caldeiras, mas tem um custo inicial maior”. 

“Ao substituir um ar condicionado e um forno, pode haver redução de custos, já que a bomba pode realizar os dois trabalhos, mas a substituição do retrofit de um forno sozinho requer um subsídio da ordem de US$ 6 mil. Eliminar a infraestrutura de conexão de gás natural é uma economia adicional de custos durante a nova construção”, disse.

O maior desafio para os edifícios, de acordo com Ben Hertz-Shargel, não é a política de eletrificação, ou mesmo a própria, mas a conversão de edifícios eletrificados em preços e consumidores que respondem à rede. 

“À medida que a eletrificação transforma uma parcela ainda maior do consumo final do edifício em eletricidade, será cada vez mais importante para os edifícios atuarem como carregadores de VEs inteligentes, alinhando seu consumo com as renováveis. No caso, existem dois conjuntos de desafios associados a isso: econômico e técnico”, explicou. 

Leia mais: Prédios novos em SP deverão ter ponto de recarga para VEs

Com relação à parte econômica, Hertz-Shargel acredita que as concessionárias e agregadores de recursos devem garantir que as propostas de valor para clientes residenciais e comerciais sejam atraentes o suficiente para ganhar sua adesão. “Isso geralmente significa investimento inicial em tecnologia inteligente e disposição para mudar o comportamento do consumo de energia”. 

“Referente a questão técnica: os edifícios são complexos e não padronizados, atributos que os tornam difíceis de orquestrar de forma escalonável. O controle de carga comercial é em muitos aspectos onde o residencial era uma década atrás, dependente da ação manual do ocupante ou da instalação de um dispositivo de retrofit – nesse caso, um interruptor de carga do ar condicionado”, exemplificou. 

O que é necessário, de acordo com o especialista, é construir sistemas de gerenciamento de energia em edifícios comerciais e plataformas residenciais inteligentes que possam aproveitar os padrões abertos para se integrarem amplamente a todos os tipos de dispositivos e tecnologias. 

“Esse tipo de interoperabilidade permitirá a orquestração no nível do edifício, que deve ser emparelhada com a conectividade da nuvem para que os mesmos recebam e atuem nos sinais da rede”, concluiu. 

Benefícios da eletrificação

Segundo Hertz-Shargel, em países com setores de energia suficientemente descarbonizados, a eletrificação não apenas reduz diretamente as emissões por meio da redução da intensidade do carbono no combustível, mas oferece uma série de benefícios que contribuem para saúde pública e equidade. 

“Embora os principais emissores, Índia e China, não tenham se distanciado do carvão o suficiente para fazer da eletrificação um benefício líquido, o custo nivelado da solar fotovoltaica caiu abaixo do carvão em ambos os países, justificando o investimento em eletrificação hoje”, disse.

Outro ponto enfatizado é que os motores elétricos são similarmente três vezes mais eficientes em termos energéticos que os motores de combustão interna, mas usam menos componentes, o que exige 40% menos manutenção pelas estimativas do governo dos Estados Unidos.

Do ponto de vista do analista da Wood Mackenzie, a eletrificação tem também um benefício de equidade para a saúde pública: ela redistribui as emissões dos canos de escape e das condutas de exaustão para os arredores das usinas termelétricas. “Ademais, permite flexibilidade de demanda, um dos mecanismos mais baratos para reduzir as emissões de carbono”. 

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Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

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