O setor de energia solar, mesmo em meio à pandemia, vem se mostrando resiliente, sendo uma fonte progressiva de empregos e impulsionamento da economia brasileira.
A crise acabou afetando sim o mercado fotovoltaico, mas não tanto quanto os outros segmentos, até pelo fôlego que estava e crescimento acelerado que vem passando.
Alguns integradores e distribuidores, por exemplo, destacaram esse momento de expansão e traçaram um comparativo entre o segundo (Q2) e terceiro trimestre (Q3) de 2020 com o mesmo período do ano passado.
Segundo a Aldo Solar, os meses de julho a setembro representaram a retomada das negociações e nível de confiança do mercado. “Apesar de alguns setores da economia ainda estarem em sofrimento, o Q3 foi 300% melhor que o Q2 deste ano”, disse Aldo Teixeira, presidente da empresa.
“A alta do dólar foi a grande surpresa do ano e depois veio a expectativa de baixa de preços por causa do ex-tarifário. Mas a Aldo cresceu 32% no terceiro trimestre de 2020 frente ao Q3 de 2019”, destacou o executivo.
Para Camila Nascimento, diretora comercial da Win Energias Renováveis, finalizar o Q3 deste ano e compará-lo com o mesmo período do ano passado é visualizar o crescimento exponencial da empresa. “Mesmo em função da pandemia, não paramos de expandir. A Win cresceu milhões de vezes de um ano para cá”.
“O mercado também está amadurecendo, os integradores se especializando cada vez mais e as tecnologias se aprimorando. Vemos hoje geradores contendo módulos com potências cada vez mais altas”, comentou Camila.
Pandemia afetou, mas empresas driblaram a crise
A Solarprime, no início do segundo trimestre, presenciou uma queda de 80% do volume de negociações no mercado. Porém, a empresa tinha duas opções: deixar o mercado impor a demanda e consequentemente a velocidade da recuperação numa retomada, ou poderia se preparar para absorver o máximo e acelerar essa recuperação quando a repressão da demanda de mercado acabasse.
“Agimos, e no início do terceiro trimestre já estávamos preparados, em equipe e em estratégia, para fazermos uma recuperação em ‘V’, resultando numa retomada potencial com um volume de negociações maior do que tínhamos antes da pandemia e superando o ano anterior. Acreditamos que certamente essa recuperação continuará com muito potencial até o Q2 de 2021”, ressaltou Raphael Britto, diretor comercial da Solarprime.
Já para Roberto Caurim, CEO da Bluesun, o Q3 de 2020 proporcionou uma “tempestade perfeita”, onde pela primeira vez foi vivenciada uma enorme instabilidade, tanto no mercado nacional como no internacional.
No entanto, segundo ele, o setor no Brasil se deparou com um aumento expressivo nas vendas, que era impossível de se prever dois meses atrás, mesmo aliada a já costumeira instabilidade do dólar.
“Já no mercado internacional, tivemos déficit na oferta de células – devido ao incêndio no maior fabricante de células na China – e uma retomada inesperada de toda a economia mundial pós-pandemia acarretando aumento expressivo do custo de frete”, disse Caurim.
“Chegamos a pagar uma diferença de quase 10 vezes no custo de transporte do contêiner entre o auge da pandemia e a retomada. E para complicar um pouco mais o que já estava difícil, nos deparamos com a escassez de contêineres e navios, pois todo o mundo voltou a demandar por produtos chineses. Resultado: cargas no porto sem navios para o transporte”, apontou.
O executivo comentou, entretanto, que a Bluesun conseguiu manter os estoques abastecidos de módulos graças à programação prévia e às parcerias estratégicas com a ULICA e BYD.
“Já estamos comprando painéis e inversores para o primeiro e segundo trimestre do ano que vem, visando não termos surpresas devido às festas de final de ano e o feriado do Ano Novo Chinês”.
Caurim destacou ainda que, após esta crise, eles perceberam a aceleração na tendência de aumento do mercado de mono PERC, principalmente na Europa.
“A fabricante de módulos ULICA, por exemplo, irá desativar toda sua linha de fabricação de células policristalinas a partir de novembro, investindo fortemente no mono PERC de alta potência”, acrescentou.
Para a integradora EOS Solar, a pandemia influenciou também, mas pouco, nas vendas da empresa. “A alta do dólar, o medo de investimento, elevação de todos insumos da energia solar – que chegaram a 46% em alguns casos – maior critério dos bancos para liberar financiamento e falta de alguns materiais no mercado, como aço, cobre, alumínio e até mesmo os painéis e inversores, frearam o crescimento”, relatou Ricardo Rizzotto, proprietário EOS Solar.
“Notamos uma quebra no mês de abril. Porém, depois voltamos a crescer todo mês. Nos últimos meses o lucro vem subindo 20%”, ressaltou Rizzotto.