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Principais ocorrências técnicas em sistemas fotovoltaicos de pequeno porte

As duas principais ocorrências mais notadas têm reflexos diretos na expectativa e satisfação do cliente
Principais intercorrências técnicas em sistemas FV de pequeno porte
Foarm analisados 600 usinas solares de até 75kW no período de um ano em regiões distintas no Brasil. Foto: Raone Silva/Divulgação

Buscando disponibilizar dados reais de amostragem cada vez mais sólidos e seguros para o mercado de energia solar fotovoltaico brasileiro a respeito de pós-venda, demonstramos neste artigo, uma série de informações levantadas a partir da entrega do serviço de assinatura pós-venda (DNA Security), diretamente a clientes finais proprietários de usinas solares, que sinalizam onde devemos destinar esforços preditivos e preventivos, tal como diretrizes técnicas e educativas a times de manutenção em campo.

Para este fim, selecionamos e analisamos 600 usinas solares de microgeração até 75 kW no período de um ano em regiões distintas no Brasil, e estabelecemos algumas regras e padrões para que o resultado não tivesse interferências externas, como por exemplo a baixa qualidade técnica da execução do projeto, e a não conformidade com as normas vigentes a serem observadas.

Outra regra estabelecida, é que não analisaríamos sistemas com tecnologias e aplicações diferentes entre si, sendo assim, todos os projetos analisados dispõem das características listadas a seguir:

  • Sistemas on-grid;
  • Inversores string (multi strings);
  • Rastreamento a nível MPPT;
  • Sistemas de microgeração;
  • Instalações rooftop;
  • Layout com stringbox;
  • Sistemas com comunicação via Wi-Fi;
  • Módulos poli/mono/mono-PERC/mono ou bifacial.

Dito isto, é importante ressaltar que todos os sistemas possuem acompanhamento remoto ativo via plataforma de monitoramento dos seus respectivos fabricantes de inversores, de igual modo possuem contrato de assinatura pós-venda que incluem a emissão de relatórios de gestão de fatura e balanço energético dos mesmos, isto nos dá clareza nos resultados a serem compilados e compartilhados. 

Para organizar os dados, listamos as sete principais ocorrências notadas e reclamadas.

Ocorrências

  • Falha ou defeito em disjuntor CA do inversor;
  • Perda de dados/comunicação entre inversor x internet Wi-Fi;
  • Performance/geração de energia inferior a contratada;
  • Infiltração no telhado utilizado para fixar os módulos;
  • Dificuldade na compreensão das contas de energia;
  • Funcionamento inadequado do inversor;
  • Outros.

Baseado nesta lista as seguintes proporções, observações e comentários foram registrados na tabela abaixo.

OcorrênciaNúmeros geraisTaxa
Performance/geração de energia inferior a contratada15225,3%
Perda de dados/comunicação entre inversor x internet Wi-Fi12921,5%
Dificuldade na compreensão das contas de energia10217,0%
Falha ou defeito em disjuntor CA do inversor8614,3%
Funcionamento inadequado do inversor6811,3%
Infiltração no telhado utilizado para fixar os módulos457,5%
Outros183,0%
Tabela 1 – Registro geral único de ocorrências anotadas por clientes proprietários de microssistemas de energia solar fotovoltaico

As duas principais ocorrências mais notadas, tem reflexos diretos na expectativa e satisfação do cliente, visto que entregam ou demostram resultados diferentes do esperado no final de um ciclo (mês). Se somadas, quase a metade dos clientes observados já tiveram problemas desta natureza.

Projetos deste porte (microgeração) no Brasil, sofrem duras penas com a desprofissionalização do setor, em que a mão de obra de maneira geral não busca qualificação adequada, e a cada novo dia abrem-se novas empresas ofertando serviços de projeto, instalação, homologação, comissionamento e outros, esquecendo-se do primordial: conhecimento de causa.

O resultado disso, é o que este artigo retrata: projetos ineficientes, clientes mal informados, mal orientados, e frustrados a respeito do seu investimento em energia solar. Tecnicamente falando, estas duas principais ocorrências podem ter origem por diferentes motivos:

  1. Ausência de visita técnica prévia, para avaliação do local, possível layout de instalação, limitações de espaço, características do padrão de entrada, logística da movimentação de carga (equipamentos), interferências gerais, análise estrutural do telhado, dentre outros;
  2. Aquisição de “kits” de equipamentos pré-formatados sem análise técnica de viabilidade e sem a personalização para as realidades particulares do cliente, como por exemplo as perdas envolvidas no projeto (orientação, inclinação, sujidade, queda de tensão, temperatura, sombreamento etc);
  3. Falha na comunicação assertiva com o cliente no momento da venda, prometendo “geração de energia mensal” ao invés de uma média de performance anual, desconsiderando o fato de que trabalhamos com uma fonte de energia intermitente que sofre variações decorrentes do clima, estações do ano, e situações não previstas como frentes frias e camadas de ar quente que alteram completamente o comportamento ou a capacidade de absorção da luz do Sol pelos módulos solares fotovoltaicos, gerando desta maneira um descontentamento geral no cliente quando em um mês específico a geração de energia é abaixo do prometido em proposta comercial;
  4. Falta de orientação ao cliente em relação ao sistema de comunicação e plataforma de monitoramento dos inversores, tornando a experiência do cliente enquanto usuário bem difícil e dependente de constantes acionamentos à suporte técnico. Muitos clientes relatam inclusive, nunca terem sido orientados quanto a existência de uma plataforma de monitoramento do seu próprio sistema solar.

Em relação a terceira posição das ocorrências (dificuldade na compreensão das informações das contas de energia), também cabe aqui um melhor preparo das equipes de pós-venda que são focadas em relacionamento e satisfação do cliente.

Empresas bem organizadas, possuem processos definidos e estratégias claras de contato com o cliente para apoio, acompanhamento e esclarecimentos.

Por mais complexas que pareçam ser a princípio, uma vez bem explicada as faturas se tornam previsíveis e de fácil assimilação, visto que as informações tendem a se repetir, alterando apenas a parte numérica de cada item.

Quanto a quarta posição, as falhas em disjuntores CA podem ter diversos motivos, tendo que ser analisado caso a caso para se chegar a um diagnóstico preciso e assertivo.

Porém, com o tempo e experiência acumulados, conseguimos listar as principais causas, deixando um alerta para as equipes de instalação e manutenção.

Na maior parte dos casos de sistemas do porte que estamos tratando, os disjuntores não ultrapassam 200A, ainda assim, pouco mais de 75% são abaixo de 80 A de capacidade nominal, essa informação é válida para dizermos que a maioria desses disjuntores são disjuntores padrões e convencionais, que vemos no dia a dia dentro dos quadros de distribuição residenciais, dispositivos termomagnéticos tipo DIN que oferecem proteção térmica e magnética.

Algumas características dos disjuntores sempre devem ser observadas desde a concepção do projeto, como por exemplo o dimensionamento baseado na carga a ser instalada e os condutores utilizados, como também a curva do disjuntor.

Não vamos entrar a fundo neste mérito, mas para esclarecimento básico, para cada tipo de carga o disjuntor tem uma curva de ruptura mais ou menos adequada, essas curvas são divididas em algumas categorias. A curva de ruptura é o tempo em que o disjuntor suporta uma determinada corrente elétrica acima da sua corrente nominal.

Disjuntores podem falhar por mal dimensionamento em projeto, por negligência de algum parâmetro a ser considerado nas equações de queda de tensão e condutividade dos cabos a serem utilizados, por falha interna de fabricação (que pode ser na proteção térmica realizada através de chapa bimetálica ou na proteção magnética realizada através de bobina e pistão metálico), dentre outros fatores.

Existe uma linha de estudo e compreensão que defende que nenhum destes disjuntores convencionais são preparados ou adequados para instalações de sistemas de energia solar.

Essa tese é baseada principalmente no entendimento de que estes dispositivos não foram projetados para suportar o fornecimento de corrente elétrica de forma ininterrupta durante aproximadamente 12 horas consecutivas por dia.

A penúltima colocada nas ocorrências é uma situação generalista, visto que funcionamento inadequado pode remeter a muitas coisas.

Porém em uma análise interna mais detalhada, notamos que há um padrão, uma repetição nas reclamações, e ela diz respeito a percepção visual do cliente em relação ao display dos inversores e a um incômodo causado no recebimento ou visualização de mensagens de alerta nas plataformas de monitoramento e e-mails.

A realidade, é que a maior parte desses alertas são transitórios, passageiros, e dizem respeito geralmente a uma baixa tensão CC de inicialização do equipamento, seja no início do dia, ou no final dele. De igual forma, alertas causados por flutuação dos níveis de tensão CA deixando o equipamento temporariamente fora de sincronismo com a rede elétrica de distribuição. Essas reclamações poderiam ser evitadas com um serviço de pós-venda e atendimento ao cliente mais proativas e eficazes, informando (e ensinando) que nem todos os alarmes do equipamento remetem a defeitos.

Por último, um assunto extremamente sensível, e que quando ocorrido pode causar grandes estragos. As infiltrações quando ocorrem devido a falta de cuidado dos profissionais no telhado, são percebidas quase sempre na primeira chuva forte após a instalação dos módulos solares, e se uma intervenção rápida não for realizada, o patrimônio do cliente pode sofrer danos complexos de reparar.

Estes acontecimentos podem ser mitigados de algumas formas, primeiramente sempre realizando uma pré inspeção visual do telhado, entendendo sobre o histórico da construção em uma conversa com o proprietário, analisando o tipo da telha ou laje em questão, os danos ou falhas já existentes, e em casos mais complexos ou de maiores incertezas sobre a capacidade de suportar um sobrepeso, deve-se realizar estudo para obtenção de laudo estrutural emitido por um profissional com competência para tal.

Podemos concluir, que a maioria das ocorrências podem ser diminuídas quando se há a presença de um atendimento pós-vendas (seja ele técnico ou comercial) adequado, proativo, ágil e assertivo. Munir o cliente de informações e conhecimento correto a respeito do seu próprio investimento solar, é o caminho a ser feito. De igual forma, criar uma mentalidade nas empresas integradoras de que precisam de treinamentos de qualificação, aperfeiçoamento, e constante reciclagem, também é indispensável.

Precisamos somar forças para que o nosso setor caminhe para a certificação das empresas e profissionalização dos colaboradores, não há outra maneira de entregar resultados satisfatórios após as vendas, senão este.  

As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.

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Raone Silva
Fundador e diretor de energia da Duo Nove. Engenheiro Eletricista especialista em engenharia fotovoltaica e em gestão sustentável de energia e eficiência energética pela COPPE/UFRJ e AHK Brasil-Alemanha (Certificate European Energy Manager). Mais de 10 anos de atuação no mercado solar e de energia. Mais de 800 MW de consultorias entregues, mais de 3 mil projetos FV atendidos, criador de smart tools para escalonamento de venda técnica e consultiva de geradores fotovoltaicos utilizado em empresas de distribuição de equipamentos, embaixador técnico oficial Staubli MC4 Brasil, e desenvolvedor da metodologia Cultura pós-vendas.

2 respostas

  1. E importante essa Reflexão das principais reclamações dos clientes pois temos que prestar serviço de qualidade isto em uma boa “POS VENDA De Qualidade”Nome pouco conhecido nas Empresas…..

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