As usinas hídricas, que há dois anos representavam mais de 60% da matriz elétrica brasileira, estão cada vez mais dividindo o protagonismo nacional com outras fontes de energia limpa.
Segundo dados publicados pelo novo boletim mensal da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), a participação das hidrelétricas já representa hoje menos da metade (49,9%) da capacidade instalada no país.
A redução de mais de 10% em tão pouco tempo tem relação direta com a expansão das usinas fotovoltaicas, tanto no segmento de geração distribuída quanto de centralizada, e também dos empreendimentos de geração eólica.
No recorte dos últimos doze meses, a participação da energia solar na matriz elétrica subiu de 10,2% em novembro de 2021 para os atuais 15,8%.
Ao todo, foram cerca de 13,5 GW acrescentados pela fonte solar neste comparativo: em novembro do ano passado eram 21,3 GW e hoje esse volume já está em 34,8 GW.
A eólica, por sua vez, teve um crescimento menos chamativo no período: de 1,2%, saltando de 11% de participação para 12,2%, com quase 27 GW de capacidade instalada no Brasil.
José Wanderley Marangon, diretor presidente do MC&E e conselheiro do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa), explica que todo esse processo verificado já estava sendo desenhado, uma vez que o Brasil não tem mais se preocupado em construir grandes hidrelétricas, com o incremento cada vez maior de capacidade das fontes solar e eólica.
“Com isso, a participação na matriz das hidrelétricas diminui. O que isso acarreta? Bom, continuamos com uma matriz renovável, só que com um tipo diferente. Agora, perdemos um pouco de controlabilidade do sistema, porque com essa inserção muito forte de usinas, que basicamente não são despacháveis, isso traz problemas para a operação da rede”, comentou.
“Problemas que estamos verificando, vamos contornar, não tem jeito. Mas estamos explorando o potencial forte, principalmente da região Nordeste em termos de sol e vento. Então, não vejo problema a princípio, mas um sinal de alerta é com relação à operação da rede com essas usinas renováveis, não despacháveis”, ressaltou Marangon.
Já Carlos Dornellas, diretor técnico e regulatório da ABSOLAR, pontua que já existe dentro da entidade uma expectativa de que até 2040 a energia solar ultrapasse as hidrelétricas e assuma a liderança na matriz elétrica brasileira.
“Temos percebido, nos últimos anos, uma forte escalada das fontes solares e isso se deve, sem dúvida, a importância dessa fonte para o nosso país, porque elas são mais fáceis de implementar. Podem ser implementadas em todo o país, de todo porte, desde pequeno até grande porte, passando por médio porte, além de levarem empregos verdes para a população e permitirem a arrecadação de tributos”, disse ele.