O uso de baterias e outros sistemas de armazenamento de eletricidade entrou no radar da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), que decidiu abrir uma discussão inicial sobre como ajustar a regulação para permitir a inserção dessas tecnologias no sistema elétrico do Brasil.
A iniciativa acompanha projeções de forte expansão global das baterias de lítio-ion e vem em momento em que companhias que incluem a norte-americana AES, a petroleira norueguesa Equinor e a transmissora ISA Cteep, do grupo colombiano ISA, demonstram interesse em viabilizar negócios no Brasil com soluções que permitam estocar energia.
A ANEEL aprovou abertura de processo de consulta de 90 dias para ouvir empresas e agentes do setor de energia sobre adequações regulatórias necessárias para fomentar a adoção desses sistemas.
Em nota, a agência disse que o desafio é adaptar a política setorial e a regulação para que seja possível aos detentores das tecnologias de armazenamento monetizar o serviço que prestam, contestando, competindo com, ou até funcionando de forma integrada com os recursos tradicionais de oferta e demanda.
A ANEEL expressou ainda preocupação em criar concorrência nesse mercado. “A instalação direta pelos monopólios naturais regulados de transmissão e distribuição deve ser limitada e acompanhada pelos reguladores, com o objetivo de não haver abuso de posição dominante”, apontaram técnicos da agência.
Eles sugeriram que projetos de pesquisa e pilotos na área devem ser incentivados para testar tecnologias e avaliar quais serviços poderiam ser providenciados para os consumidores pelos sistemas de estocagem.
Tecnologias mais utilizadas no mundo
Segundo levantamento da ANEEL, a tecnologia mais utilizada no mundo no momento para armazenar energia é a construção de hidrelétricas reversíveis. Já as baterias de lítio-ion são vistas como a que ganhará mais espaço nos próximos anos devido à acentuada redução de preços, de 85% entre 2010 e 2018.
Uma análise preliminar da agência aponta que as baterias poderiam ser utilizadas para fomentar a inserção de renováveis, reduzir custos de operação do sistema e providenciar energia como back-up, além de poderem adiar investimentos em redes ou aliviar pontos de congestão no sistema elétrico, entre outras aplicações.
De acordo com dados da IEA (Agência Internacional de Energia), um cenário de desenvolvimento sustentável poderia gerar um mercado de aproximadamente 600 GW em oportunidades somente para baterias até 2040.
Essas instalações abrangeriam desde baterias para carros elétricos até aplicações em redes de distribuição e transmissão e sistemas de armazenamento associados a equipamentos fotovoltaicos ou de outras fontes intermitentes, como turbinas eólicas.
Vantagens do armazenamento de energia
Para Shawn Qu, CEO da Canadian Solar, a tecnologia de armazenamento será um facilitador crítico do mercado de energia solar fotovoltaica no futuro. “Já vimos reduções significativas de custos em soluções de armazenamento de energia e acreditamos que haverá avanços significativos nessa área nos próximos anos, o que reduzirá os custos e melhorará o gerenciamento do ciclo de vida do armazenamento”, destacou.
“Na Canadian Solar, estamos desenvolvendo nossa experiência e aumentando rapidamente o espaço de armazenamento solar. Nosso modelo de negócios integrado, cobrindo módulos e soluções de sistema, bem como nosso negócio de energia, nos dá uma vantagem de crescimento para desenvolver soluções de energia solar com boa relação custo-benefício, ponta a ponta, integradas e despacháveis”, acrescentou Qu
Segundo o executivo, neste último trimestre, a empresa quase dobrou o pipeline total e carteira de projetos de armazenamento. “Também estamos construindo nosso pipeline de armazenamento em outras partes do mundo, incluindo América Latina, Europa e Austrália”, concluiu.