O setor solar segue em constante evolução, com grandes expectativas para o avanço de tecnologias de armazenamento e mudanças significativas na dinâmica do mercado. Em entrevista exclusiva ao Canal Solar, Antônio Salgueiro, General Manager LATAM da TBEA, compartilha sua visão sobre as tendências e desafios para 2025.
Com foco no impacto do BESS (Battery Energy Storage System), Salgueiro discute como as inovações em baterias e inversores podem transformar o setor. Ele também avalia o papel dos leilões de armazenamento e como o mercado brasileiro pode se preparar para aproveitar essas oportunidades.
A seguir, confira a entrevista completa com o executivo, onde ele aborda temas como o futuro da GD (geração distribuída), as barreiras para a adoção de tecnologias de armazenamento e as perspectivas para novos modelos de negócios no segmento fotovoltaico.
Com a maturidade do setor de geração distribuída, quais segmentos você acredita que terão maior destaque em 2025?
Certamente, o segmento mais importante de 2025, na visão da TBEA, será o mercado de armazenamento de energia através das baterias. O BESS, efetivamente, vai ser uma tendência muito grande, tendo em vista os vários problemas que estamos encontrando de curtailment.
Outro ponto fundamental é o leilão que está previsto para esse ano. Esse leilão vai ser uma abertura de porta para plantas de grande escala, e com isso o mercado vai tomar um ritmo interessante.
É claro que todo mundo também está aguardando a regulamentação adequada e as mudanças no procedimento de rede para que essas baterias se conectem de forma efetiva no sistema.
A adoção de sistemas de armazenamento está começando a crescer no Brasil. Como você avalia o impacto disso no mercado de energia solar em 2025?
Como já dito na questão anterior, o armazenamento, certamente, vai ser o ponto de suporte para um novo passo de crescimento da geração solar. Através de novas regulações e legislações – a possibilidade de entregar energia no momento mais adequado da demanda será uma tendência clara.
Atualmente, enfrentamos problemas devido à “curva do pato”, onde, no momento de maior produção de energia solar, a demanda não requer essa injeção, resultando em curtailment. As baterias ajudarão a deslocar essa produção para momentos de maior demanda, promovendo crescimento contínuo tanto da geração solar quanto das iniciativas de entrega de energia via BESS.
Quais inovações tecnológicas você acredita que terão maior impacto no setor solar em 2025, especialmente em relação a inversores e baterias?
O BESS modular será uma das principais inovações, com capacidade de adaptação a novas tecnologias de baterias. Sistemas de grande escala com design modular serão tendências importantes para viabilizar o mercado.
Além disso, o Statcom (Compensador Síncrono Estático), que auxilia na geração de reativos e na manutenção da estabilidade do sistema, será uma solução essencial, especialmente diante da crescente injeção de energia solar, principalmente na GD.
O que o mercado brasileiro pode esperar em termos de novos modelos de negócios e parcerias estratégicas no setor de energia solar neste ano?
Na GC (geração centralizada), o modelo de autoprodução continuará predominando, embora esse benefício possa ser reduzido no futuro. Com as baterias, veremos tendências como o gerenciamento de ponta, fora ponta e maior aproveitamento energético no lado CC dos inversores.
Na GD, vemos desafios, especialmente com novos fabricantes oferecendo produtos de qualidade discutível e preços muito baixos. No entanto, com o tempo, a qualidade e a disponibilidade energética dos projetos tendem a reajustar o mercado.
Quais mudanças você prevê na demanda por energia solar em setores como agronegócio, indústria e comércio ao longo deste ano?
Mais uma vez as grandes mudanças estão vinculadas à BESS. Primeiro no agronegócio, que trabalha com pivôs de irrigação ou sistemas off-grid, o BESS se mostra bastante, economicamente falando, viável – reduzindo assim o consumo de diesel, que atualmente tem um preço alto e uma logística difícil.
Outra coisa seria a gestão da energia de ponta e fora ponta. Principalmente na média tensão em indústrias de médio porte, essa gestão com BESS se mostra bastante efetiva hoje em dia.
A inserção de BESS também na GD é um desafio, que na nossa visão, pode ser facilmente vencido devido às melhores condições de preço de energia pagos na geração distribuída, que diferentemente da GC , na GD já temos uma regra mínima, para inserção de baterias no sistema através da 14300.
No entanto, as soluções devem serem melhores discutidas, principalmente devido a utilização massiva de inversores strings, que têm uma dificuldade maior de implementação de BESS no lado CC, onde no lado CA tem alguns tipos de complicadores regulatórios que ainda precisam ser resolvidos, principalmente nas concessionárias de energia que consideram hoje o BESS através de suas PCS um aumento da potência conectada ao grid, impactando diretamente no parecer de acesso dos acessantes.
O mercado de grandes usinas solares no Brasil ainda tem espaço para crescimento, ou a tendência é focar na geração distribuída e no armazenamento?
Em 2025, veremos um mercado de 5 a 6 GW, no qual a autoprodução ainda proporciona possibilidade de crescimento. Além disso, há um movimento promissor relacionado ao hidrogênio. Apesar de algumas questões ainda pendentes, os investimentos já começaram, e o hidrogênio poderá manter o mercado em crescimento ou ao menos evitar uma redução.
Outro ponto interessante é o aumento dos data centers. O Brasil tem se tornado um destino atrativo para essas instalações, que demandam energia de alta capacidade e funcionamento contínuo, gerando novas oportunidades para o setor.
Ademais, esperamos que, em um ou dois anos, as baterias estejam ainda mais competitivas. Isso permitirá deslocar a energia solar produzida para momentos mais adequados de injeção no grid, garantindo maior viabilidade para projetos de geração centralizada.
Na GC, os clientes continuam exigentes em relação à qualidade, buscando fornecedores com experiência, capacidade técnica e processos bem estruturados. Já na GD, enfrentamos um cenário mais desafiador, com fabricantes oferecendo produtos de qualidade inferior e preços abaixo do mercado. No entanto, acreditamos que o mercado irá se reajustar com o tempo, à medida que a qualidade dos projetos prevalecer.
Quais são as principais barreiras que o armazenamento de energia ainda enfrenta para ser amplamente adotado no Brasil?
As dificuldades são diversas. Primeiramente, ainda não há uma regulamentação clara que defina as regras para o BESS no Brasil, o que desestimula investimentos de curto prazo. Além disso, a questão tarifária é um grande obstáculo: os impostos sobre sistemas de armazenamento podem aumentar os custos em mais de 70%, muitas vezes inviabilizando a implementação.
Outro desafio é a falta de clareza nos requisitos do ONS para conectar os BESS ao sistema de transmissão, especialmente no lado CA das plantas conectadas ao SIN. Isso dificulta a aprovação de novos projetos.
No entanto, acreditamos que o leilão previsto para este ano pode ajudar a estabelecer regras mais claras e melhorar a viabilidade desses sistemas no Brasil. Ainda assim, sem avanços na questão tarifária, será desafiador implementar projetos de larga escala no curto prazo.
A alta do dólar e as mudanças na política econômica têm impactado diretamente os custos no setor. Qual é a sua visão sobre isso?
Em 2024, esses fatores tiveram um impacto significativo, especialmente na GC. Com PPAs de baixo valor, os clientes já estavam operando no limite da lucratividade, e os custos adicionais causados pelo dólar e pelo cancelamento dos ex-tarifários tornaram os investimentos ainda mais arriscados.
O mercado tem mostrado resiliência, e os clientes estão buscando formas de reduzir custos para absorver esses aumentos. A TBEA tem oferecido soluções técnicas, como a otimização de inversores e subestações, para minimizar os impactos.
Além disso, a geração distribuída, que cresce rapidamente, não está sendo acompanhada pelo ritmo de expansão do sistema elétrico, gerando desafios tanto para a GC quanto para a GD. Nesse cenário, as baterias surgem como uma alternativa interessante para deslocar a energia para momentos de maior demanda.
Como você avalia a realização do leilão de armazenamento de energia no Brasil? Qual impacto isso pode trazer para o mercado solar e para o setor elétrico como um todo?
O leilão é um passo essencial para consolidar o segmento de armazenamento no Brasil. Assim como os primeiros leilões de energia solar impulsionaram a regulação do mercado há mais de uma década, o mesmo pode ocorrer agora com o BESS.
Esse leilão inicial ajudará a criar uma base para futuros investimentos no mercado livre. No futuro, a energia solar não utilizada poderá ser direcionada para armazenamento, aumentando sua eficiência.
Quais desafios técnicos e financeiros os projetos vencedores do leilão devem enfrentar para serem implementados?
Os desafios incluem a falta de regras claras do ONS para a conexão de baterias, especialmente no sistema de transmissão, e a necessidade de reduzir custos iniciais (CAPEX) enquanto distribui os gastos ao longo do tempo (OPEX).
Além disso, o mercado de baterias está em constante evolução, e tecnologias mais eficientes e econômicas deverão surgir nos próximos anos. Isso permitirá que os custos sejam amortizados durante a operação, reduzindo a necessidade de um alto capital inicial.
O leilão de armazenamento pode abrir caminho para o desenvolvimento de uma cadeia de fornecimento local de baterias e equipamentos no Brasil?
Embora o leilão tenha potencial para incentivar a cadeia local, questões tarifárias e impostos elevados ainda dificultam a fabricação nacional. Por enquanto, a China continua sendo a opção mais competitiva em termos de custo e qualidade.
Para viabilizar projetos no Brasil, seria necessário reduzir tarifas sobre produtos importados e promover cadeias complementares locais sem prejudicar os interessados em implementar sistemas de baterias.
Qual é a sua expectativa em relação à viabilidade econômica dos projetos vencedores do leilão? O modelo de receita adotado é sustentável?
O modelo atual, inspirado nos leilões de transmissão, pode ser viável com ajustes. No entanto, acreditamos que, no futuro, será mais eficaz que os concorrentes utilizem sua própria energia ou novos excedentes para armazenamento, reduzindo o impacto do curtailment.
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