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Brasil teve maior queda do mundo em emissões do setor elétrico em 2022

Relatório da Ember destaca ainda que a solar e eólica geraram 12% da eletricidade mundial no ano passado

Autor: 12 de abril de 2023Indicadores
7 minutos de leitura

De acordo com o Global Electricity Review, relatório lançado nesta semana pelo think tank de energia Ember – que apresenta dados de eletricidade de 2022 em 78 países – o Brasil viveu a maior queda absoluta do mundo nas emissões do setor energético em 2022.

O setor energético brasileiro emitiu 69 milhões de toneladas de CO2 no ano passado, uma queda de 34% (-36 MtCO2) em relação a 2021, quando emitiu 105 milhões de toneladas. A Ucrânia viu o segundo maior declínio nas emissões (-14 MtCO2) e um declínio percentual comparável (-38%).

Conforme o estudo, a redução de emissões do Brasil se deveu principalmente a um aumento de um ano para o outro da geração hidrelétrica devido a alta da pluviosidade (+65 TWh, +18%).

A geração hidrelétrica em 2021 (363 TWh) estava em seu nível mais baixo desde 2015, enquanto em 2022 atingiu o nível mais alto desde 2011 (428 TWh). Além disso, apontaram que a energia eólica (+8,5 TWh, +12%) e a solar (+5 TWh, +30%) apresentaram ambos um bom crescimento no ano passado em comparação com 2021.

Isso levou, no caso, a uma queda na energia gerada pelos combustíveis fósseis, notadamente uma redução de 46% no gás (-42 TWh). A queda nas emissões vem depois de 2021, quando houve um recorde histórico para as emissões do setor elétrico brasileiro devido às más condições hidrelétricas e à maior demanda de eletricidade.

Potencial inexplorado da solar no Brasil

A oscilação de altas emissões em anos de seca para baixas emissões durante os anos úmidos pode ser evitada com a utilização de mais vento e sol. Pesquisadores descobriram que, cobrindo apenas 1% das hidrelétricas brasileiras com energia solar flutuante, o Brasil poderia atender 12% de suas necessidades de eletricidade.

A tecnologia também reduziria a evaporação e maximizaria a geração de hidroeletricidade. Em vez disso, o país investiu fortemente em usinas elétricas a gás, com contratos que obrigaram a contratação desta energia mesmo durante anos de geração hidrelétrica abundante.

Segundo dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), 3% da eletricidade do país veio da energia solar em 2022. Em 2022, o Brasil gerou 89% de sua eletricidade a partir de fontes limpas, o que inclui também 63% de energia hidrelétrica e 12% de eólica. Os combustíveis fósseis representavam 11% da geração brasileira no ano pasado, sendo que a maioria foi observada no gás (7%).

“A crescente capacidade eólica e solar do Brasil já está fornecendo eletricidade substancial para a rede”, frisou Małgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior de eletricidade da Ember.

“Como elas continuam a crescer, estas tecnologias ajudarão não apenas a reduzir as emissões do setor elétrico, mas também a impulsionar cortes de emissões em toda a economia através da eletrificação de outros setores. A crise global do gás em 2022 deixou claro que combustíveis fósseis caros não podem ser confiáveis para a segurança energética a curto ou longo prazos”, enfatizou.

‘É preciso priorizar as fontes renováveis’

Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente) e do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), comentou que, se analisadas isoladamente, as emissões do setor elétrico brasileiro em 2021 e 2022 podem gerar conclusões bem diferentes.

“Em 2021, a quantidade de carbono emitido foi uma das maiores registradas, o que parece um retrocesso. Já em 2022, essas emissões caíram de forma acentuada, o que parece ser um salto em direção à transição”, relatou.

Na visão dele, esse sobe e desce ocorreu em função das grandes variações no regime hidrológico do Brasil, influenciando a geração hidrelétrica, a mais importante fonte de energia no país.

“Para superar essa gangorra, que pode acontecer novamente no futuro, é preciso priorizar de maneira assertiva quais fontes complementarão a hidreletricidade. Tem se observado uma certa aposta no gás, o que acaba por ocupar o espaço de usinas eólicas e solares”, disse.

Portanto, com o intuito de reduzir tais emissões de forma sustentada, o especialista destacou que o Brasil precisa reverter essa tendência do gás, e estruturar o sistema para acionar termelétricas apenas em último caso.

Solar e eólica registram recorde em 2022

O relatório enfatizou também que as fontes solar e eólica atingiram um recorde de 12% da eletricidade mundial em 2022, contra 10% em 2021. Em toda a América do Sul, Uruguai (36%) e Chile (28%) têm as maiores quotas.

Os dados revelaram que mais de 60 países geram atualmente mais de 10% de sua eletricidade a partir da energia eólica e solar, incluindo o Brasil (15%) e a Argentina (12%).

Além disso, destacaram que a solar foi a fonte de eletricidade que mais cresceu no mundo pelo décimo oitavo ano consecutivo, aumentando 24% de um ano para outro e adicionando eletricidade suficiente para abastecer toda a África do Sul. A geração eólica aumentou 17% em 2022, o suficiente para energizar quase todo o Reino Unido.

“O cenário está preparado para que a eólica e solar alcancem uma ascensão meteórica até o topo. A eletricidade limpa irá remodelar a economia global, do transporte à indústria e mais além”, apontou Wiatros-Motyka.

“Uma nova era de queda das emissões fósseis significa que a energia do carvão se reduzirá gradualmente, e o fim do crescimento da energia do gás está agora à vista. A mudança está chegando rapidamente, entretanto, tudo depende das ações tomadas agora pelos governos, empresas e cidadãos para colocar o mundo em um caminho para a energia limpa até 2040”, frisou o executivo.

Dados da produção global de eletricidade

2022

2021

Year-on-year change

Share in the electricity mix, %

(Generation, terawatt hours)

Change in generation, terawatt hours

(as a percentage)

Solar

4.5%

(1,284 TWh)

3.7%

(1,039 TWh)

+245 TWh

(+24%)

Wind

7.6%

(2,160 TWh)

6.6%

(1,848 TWh)

+312 TWh

(+17%)

Hydro

15%

(4,311 TWh)

15%

(4,238 TWh)

+73 TWh

(+1.7%)

Coal

36%

(10,186 TWh)

36%

(10,078 TWh)

+108 TWh

(+1.1%)

Gas

22%

(6,336 TWh)

23%

(6,348 TWh)

-12 TWh

(-0.2%)

Nuclear

9.2%

(2,611 TWh)

9.9%

(2,739 TWh)

-129 TWh

(-4.7%)

Bioenergy

2.4%

(672 TWh)

2.4%

(666 TWh)

+5.5 TWh

(+0.8%)

Electricity demand

28,510 TWh

27,816 TWh

+694 TWh

(+2.5%)

Emissões globais do setor elétrico atingiram pico

O estudo da Ember prevê ainda que o ano passado poderá ser o “pico” das emissões de eletricidade e o último ano de crescimento da energia fóssil, com a energia limpa atendendo a todo o crescimento da demanda em 2023.

Como resultado, haveria uma pequena queda na geração de energia fóssil (-0,3%) em 2023, com quedas maiores nos anos subseqüentes, à medida que a implantação eólica e solar se acelera. “Nesta década decisiva para o clima, é o início do fim da era fóssil. Estamos entrando na era da energia limpa”, finalizou o analista sênior.

Apesar da crise mundial do gás e dos temores de um retorno ao carvão, o aumento da eólica e solar limitou a expansão da geração global de carvão, que aumentou 1,1% em 2022.

A geração global de energia a gás caiu muito ligeiramente (-0,2%) em 2022. Em geral, isso ainda significou que as emissões globais do setor energético aumentaram em 1,3% em 2022, atingindo um recorde histórico.

De acordo com a modelagem da IEA (Agência Internacional de Energia), o setor elétrico precisa passar de ser o segmento de maior emissão para ser o primeiro a alcançar o zero líquido em 2040, a fim de alcançar o net zero em toda a economia até 2050. Isto significaria que as fontes solar e eólica alcançariam 41% da eletricidade global até 2030, em comparação com 12% em 2022.

Mateus Badra

Mateus Badra

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020. Atualmente, é Analista de Comunicação Sênior do Canal Solar e possui experiência na cobertura de eventos internacionais.

Um comentário

  • NAPOLEAO DE ALENCAR ALMEIDA disse:

    Não há o que contestar. Apenas alertar e pedir que o governo brasileiro crie subsídios a fim de estimular o uso das energias renováveis, principalmente a solar, Afinal de contas, vivemos em um país tropical, onde a incidência de radiação solar nos favorece a crescermos nessa direção para cada vez mais usar energia renovável.

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