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Demanda por equipamentos na Europa pode elevar o preço dos módulos

Redução de suprimentos energéticos russos nos países europeus pode desestabilizar relação de oferta e demanda
Alta demanda por equipamentos na Europa elevará ainda mais o preço dos módulos fotovoltaicos
Procura pelos módulos fotovoltaicos deve continuar crescendo nos próximos meses em todo o mundo

Os preços dos módulos fotovoltaicos devem continuar subindo em todo o mundo, nos próximos meses, em razão das consequências do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro.

Enquanto nações como Estados Unidos e Reino Unido planejam uma moratória do consumo de petróleo e gás russo, os países da União Europeia seguem temerosos quanto aos impactos que as sanções russas podem causar na oferta imediata desses combustíveis.

Atualmente, a Rússia é o principal fornecedor de gás natural para países como a Alemanha e a Itália, que não possuem alternativas no curto prazo para substituí-lo. O receio é de que se houver restrições no fornecimento, grande parte da Europa corra risco de desabastecimento.

Somente em 2021, a União Europeia importou cerca de 155 bcm (bilhões de metros cúbicos) de gás por gasodutos russos. Trata-se de um montante que representa cerca de 45% das importações de gás da Europa no ano passado.

Fernando Castro, country manager da JA Solar no Brasil, explica que o conflito na Ucrânia e que uma possível redução do suprimento do petróleo e do gás russo para a Europa deverá fazer com que os países do Velho Continente aumentem, já nos próximos meses, de maneira exponencial, a participação das energias renováveis em suas matrizes energéticas.

Com isso, a procura e o preço de produtos, como polissilício – principal matéria prima usada na fabricação dos painéis solares – deve subir em razão da maior demanda em relação à oferta, o que, inevitavelmente, impactará o preço final dos módulos fotovoltaicos no mercado mundial.

“Neste cenário, devido à oferta e demanda desbalanceada, os preços devem subir sim. E, neste momento, não sabemos precisar quando, quanto e por quanto tempo isto [aumento dos preços] será válido”, disse Castro.

“A demanda crescerá muito por módulos fotovoltaicos em 2022 e nos próximos anos. Provavelmente, com a demanda excedendo a capacidade de fabricação dos principais players do mercado”, ressaltou ele.

A tese defendida por Castro é a mesma de outros fabricantes do setor. William Sheng, CEO da Sunova, por exemplo, explica que o valor dos módulos fotovoltaicos também subirão em razão “dos grandes players de silício terem anunciado o adiamento do plano de expansão de capacidade de 2022 para o quarto trimestre (o que reduz a produção)”, comentou.

Módulos no Brasil

De acordo com Wladimir Janousek, diretor da JCS Consultoria e Serviços, com o atual cenário que se apresenta, o Brasil também será afetado pelo aumento no preço dos módulos e precisará disputar o mercado com os demais países para garantir a oferta de equipamentos no mercado interno.

“Onde o Brasil perde um pouco mais é na cadeia mais longa (frete) e por não ter desenvolvido nenhuma política de verticalização de nenhum componente. Ou seja, estamos sujeitos a todos os tipos de aumentos, seja ele no polisilício, EVA, backsheet, célula, alumínio e por aí vai”, disse.

De acordo com Janousek, apesar das incertezas, tudo leva a crer que os países vão travar embates para conseguir produtos e alocar capacidades nos próximos meses, o que deve causar uma preocupação para o setor nacional até a reta final do ano.

“Ainda é um cenário bastante incerto, mas a questão dos preços vai ser uma preocupação até, pelo menos, a segunda metade do segundo semestre”, destacou.

“Os preços devem continuar subindo nas próximas semanas e deve ocorrer uma manutenção num patamar diferente daquilo que havia sido projetado. O mercado tinha uma expectativa de que os preços poderiam, ainda no primeiro semestre deste ano, voltar a cair e ficar próximos do que tivemos em 2020. Mas, isso não deve mais ocorrer também por outros motivos”, destaca ele.

Ainda segundo Janousek, a demanda global por equipamentos já vinha crescendo antes mesmo do conflito na Ucrânia. Em contrapartida, ele destacou que o aumento de capacidade no começo da cadeia ainda está sendo implementada num processo mais lento e que, talvez, a plena capacidade das novas fábricas chinesas só sejam atingidas no segundo semestre.

“Em paralelo, vemos a China com uma proposta bastante agressiva de expansão adicional na sua matriz de geração solar com uma estratégia bem diferenciada para GD em telhados e de GC em regiões desérticas, podendo chegar a marca dos 120 GW neste ano, o que seria mais da metade do previsto para todo o mundo”, disse ele.

“Isso coloca uma pressão na cadeia produtiva, porque a demanda interna na China está alta e os demais mercado vão brigar por produtos”, ressaltou.

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Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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