Nos últimos anos, o mercado de energia solar passou por uma transformação significativa, impulsionada por fatores como avanço tecnológico, aumento da capacidade produtiva global e mudanças no cenário econômico.
A queda expressiva nos preços dos painéis fotovoltaicos nos últimos dois anos tem sido um dos aspectos mais marcantes desse processo, mas a recente alta de impostos sobre importação e a volatilidade do câmbio trouxeram novos desafios para integradores e consumidores.
Diante desse cenário dinâmico, compreender os movimentos de mercado se tornou essencial para aqueles que atuam no setor.
Dados obtidos pelo Canal Solar em parceria com a Solfácil, empresa especializada em soluções para o setor solar, reforçam essa tendência.
Segundo a plataforma Radar Solfácil, o custo médio de um sistema de energia solar no Brasil caiu de R$ 4,80/W para R$ 2,40/W entre o primeiro trimestre de 2022 e o quarto trimestre de 2024.
Para discutir essas tendências e entender melhor os fatores que explicam essa redução expressiva nos custos, o Canal Solar entrevistou Fabio Carrara, CEO da Solfácil.
Durante a conversa, o especialista trouxe um panorama detalhado sobre os impactos da sobrecapacidade de produção da China, as variações de preço ao longo dos últimos anos e as perspectivas para o mercado solar no Brasil.
Ele destacou como a superprodução chinesa levou a uma guerra de preços, reduzindo drasticamente as margens dos fabricantes e pressionando os integradores a se adaptarem às oscilações de custo.
Além disso, abordou os desafios impostos pela alta dos juros e o efeito das tarifas de energia sobre a precificação dos sistemas em diferentes regiões do país. Outro ponto relevante discutido na entrevista foi o crescimento do mercado de armazenamento de energia.
Carrara explicou que fatores como a redução do valor dos créditos de energia injetada na rede, os recentes apagões em algumas regiões do Brasil e a inversão de fluxo de potência têm impulsionado a busca por soluções com baterias.
Confira a seguir a entrevista completa:
Em termos de preço, quando falamos de energia solar, o que podemos destacar sobre a evolução dos custos ao longo dos últimos anos?
Naturalmente, com essa sobrecapacidade de produção, muitas empresas acabaram com estoques altos e sem demanda suficiente para vender. Isso levou a uma guerra de preços e à compressão das margens.
Observamos, nos últimos dois anos, uma queda substancial nos preços dos painéis fotovoltaicos. Essa dinâmica acabou impactando também os fabricantes, que tiveram prejuízos significativos por conta desse excesso de oferta.
Então, isso resultou em uma queda expressiva nos preços?
Sim, na época do auge dos preços, os painéis estavam cerca de 70% mais caros do que hoje. No entanto, essa tendência de queda não se refletiu diretamente nos serviços dos integradores. O preço da mão de obra, por exemplo, não sofreu a mesma deflação.
Muitas vezes, quando falamos na queda dos preços, associamos isso a avanços tecnológicos e ao ganho de escala na produção. Mas, há também o fator da sobrecapacidade da China, certo?
Sim. A evolução tecnológica existe e tem seu impacto, mas, no contexto recente, esse fator foi pouco relevante diante do excesso de produção. Nos últimos anos, a China aumentou sua capacidade produtiva muito além da demanda global.
Isso fez com que os fabricantes precisassem reduzir suas margens para manter as fábricas operando, chegando ao ponto de alguns operarem com margens praticamente negativas.
Diante desse excesso de produção, como os fabricantes estão reagindo agora? Você tem informações sobre essa dinâmica?
Corrigir esse descompasso entre capacidade produtiva e demanda global leva anos. O que estamos vendo agora é um ajuste gradual, com o próprio governo chinês intervindo para evitar novas expansões desenfreadas. Mas esse equilíbrio ainda está distante.
E como isso pode impactar os preços?
Se houvesse uma demanda mais equilibrada, os preços deveriam estar um pouco mais altos. Mas, ao mesmo tempo, a tecnologia continua evoluindo, permitindo módulos com maior potência e eficiência, o que também exerce influência sobre os preços.
Outro fator que pode mexer com os preços são as variáveis locais, como impostos e câmbio. Como você vê isso?
É difícil fazer previsões, pois o mercado pode ser afetado por decisões políticas e econômicas. Por exemplo, no final do ano passado, tivemos um aumento da alíquota de importação para painéis solares, que subiu de 9,6% para 25%.
Esse tipo de mudança pode impactar diretamente os preços. Além disso, a flutuação do câmbio também tem um papel relevante.
Com a alta dos preços dos módulos, como fica a situação para os integradores?
No curto prazo, quando há um aumento repentino no preço dos equipamentos, quem absorve esse impacto inicialmente são os integradores.
Isso acontece porque eles já fecharam contratos com valores previamente acordados e não podem simplesmente repassar o aumento ao cliente final.
Mas, à medida que os estoques vão sendo renovados, os projetos começam a ser reprecificados, e essa variação acaba chegando ao consumidor.
Apesar disso, o financiamento dos sistemas ainda continua viável?
Sim. Curiosamente, mesmo com a alta dos juros, hoje a parcela do financiamento de um sistema fotovoltaico é menor do que há um ano. Isso porque a queda nos preços dos equipamentos compensou, em parte, o efeito dos juros elevados.
O preço dos sistemas solares varia de estado para estado no Brasil. O que explica essas diferenças?
Basicamente, há dois fatores principais. O primeiro é a competitividade do mercado: em estados onde há mais integradores disputando os mesmos clientes, os preços tendem a ser mais baixos.
O segundo fator é o valor da tarifa de energia. Em locais onde a conta de luz é mais cara, os projetos solares costumam ter um preço mais alto, pois a economia gerada pelo sistema faz mais sentido para o consumidor.
O setor tem falado muito sobre baterias nos últimos meses. Quais são os principais fatores impulsionando esse mercado?
Existem quatro fatores principais que estão estimulando o uso de baterias no Brasil. Primeiro, a Lei 14.300/2022, que reduziu o valor dos créditos da energia injetada na rede, tornando o armazenamento mais atrativo.
Segundo os recentes apagões e quedas de energia, que aumentaram a preocupação dos consumidores com segurança energética.
Terceiro, a questão da inversão de fluxo de potência, que tem dificultado a conexão de novos sistemas solares em algumas regiões.
E, por último, a queda no preço das baterias, tornando essa tecnologia mais acessível.
Então podemos esperar que o armazenamento de energia ganhe força nos próximos anos?
Sim. Há alguns projetos inovadores surgindo, e vemos um movimento semelhante ao que ocorreu com a energia solar há alguns anos.
Os integradores precisam se preparar para essa nova demanda, pois a venda de sistemas de armazenamento exige mais conhecimento técnico e um perfil mais consultivo.
Para finalizar, qual é a sua visão para o setor solar nos próximos anos?
O mercado de energia solar ainda tem muito espaço para crescer. Além da geração fotovoltaica, o armazenamento de energia será um dos próximos grandes movimentos do setor.
Os integradores que se atualizarem e souberem oferecer soluções completas, incluindo baterias, terão uma grande oportunidade pela frente.
Todo o conteúdo do Canal Solar é resguardado pela lei de direitos autorais, e fica expressamente proibida a reprodução parcial ou total deste site em qualquer meio. Caso tenha interesse em colaborar ou reutilizar parte do nosso material, solicitamos que entre em contato através do e-mail: redacao@canalsolar.com.br.