Itaipu verte água em plena crise hídrica

José Marangon faz alerta e destaca importância da GD com baterias como principal opção para tornar um sistema energético mais resiliente
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Foto: Rubens Fraulini/Itaipu

No último sábado (23), cinco unidades geradoras de Itaipu tiveram que ser desligadas devido à atuação do esquema de corte de geração.

O motivo? Uma tempestade ocasionou a abertura dos circuitos de 750 kV que leva a energia da usina para a região Sudeste e Sul.

Além disso, o elo de corrente contínua que transporta a energia do setor paraguaio teve problema no eletrodo de terra.

Em função destas emergências, no período das 14h até as 22h , foi necessário abrir o vertedouro da usina de Itaipu que estava sem operar há 500 dias até o restabelecimento das linhas de transmissão e a volta das unidades geradoras.

A necessidade de verter água num momento de crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos no país, se deve às restrições de variação de defluência firmadas no tratado tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina.

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Apesar de a equipe de Itaipu ter envidado esforços no sentido de minimizar esta perda de eletricidade equivalente a uma hora de operação plena da planta, um sinal amarelo foi aceso, pois foi preciso jogar fora energia numa situação de carência energética.

Está é a análise de José Marangon, especialista em geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. “Dois fenômenos climáticos ocasionaram esta preocupação: a diminuição ao longo destes últimos anos do nível de precipitação – o que tem elevado significativamente o valor da água nos reservatórios – e a emergência ocasionada por eventos climáticos”, explicou.

De acordo com Marangon, os modelos climáticos globais que simulam as condições atmosféricas apontam para o aprofundamento destes dois fenômenos nas próximas décadas para esta região do país.

“O alerta deve ser endereçado não só à operação, mas ao planejamento do sistema energético. Grandes centrais de geração e sistemas de transmissão de grande extensão geram fragilidades em função da ameaça climática já dimensionada nos últimos IPCCs. Ademais, a governança dos recursos hídricos e as restrições para a operação das cascatas devem ser revisitadas, mas que trazem grandes desafios”, ressaltou.

Portanto, na visão do especialista, em função dos avanços tecnológicos, hoje é possível atender a carga por meio de geração distribuída e armazenamento, tornando o sistema de suprimento mais resiliente devido à proximidade entre a carga e a geração.

“As mudanças climáticas vão trazer grandes desafios para o setor e torna-se imprescindível mudar a visão tradicional do planejamento e dos agentes do segmento”, concluiu.

Imagem de Mateus Badra
Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

Uma resposta

  1. A GD é muito importante nos diversos aspectos benéficos que proporciona nos aspectos técnico e econômico, porém não tem dimensão nem confiabilidade para ser considerada solução em si pois todos os recursos existentes são fundamentais considerando a minimização das fontes poluentes.

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