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Mudanças climáticas vão exigir mais investimentos no setor elétrico, avaliam especialistas

O grande desafio será como modernizar as redes sem inflacionar a tarifa de energia para o consumidor final

Autor: 22 de novembro de 2023Setor Elétrico
6 minutos de leitura
Mudanças climáticas vão exigir mais investimentos no setor elétrico, avaliam especialistas

Foto: Freepik

As mudanças climáticas estão afetando toda a economia, mas no setor elétrico a situação tem ficado mais evidente nos últimos anos e, sobretudo, nas últimas semanas.

O setor já convive com irregularidades das chuvas que trazem desafios do ponto de vista energético. Agora, as tempestades têm provocado interrupções no fornecimento de energia em algumas partes do país, sendo que a ocorrida em São Paulo neste mês de novembro foi uma das mais graves da história, segundo especialistas.

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Por sua vez, as ondas de calor têm elevado as temperaturas a níveis extremos, fazendo a demanda de energia do país atingir picos nunca antes verificados na história e, por consequência, exigindo mais dos sistemas de transmissão.

Segundo Bernardo Marangon, sócio administrador na Exata Energia, as mudanças climáticas vão exigir cada vez mais investimentos no setor elétrico. O grande desafio será como modernizar as redes sem inflacionar a tarifa de energia para o consumidor final.

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Para ele, a solução necessariamente passará pelo investimento em fontes renováveis e tecnologias de armazenamento de energia.

Em 2021, a escassez hídrica fez reviver o fantasma do racionamento e o governo teve que contratar térmicas emergências a preço de ouro, fazendo os preços da energia dispararem.

Logo depois, um período hidrológico extremamente favorável recuperou os reservatórios e fez o preço permanecer no piso ao longo de 2023. Como já se sabe, o Brasil tem uma matriz diversificada, mas ainda muito dependente das hidrelétricas.

“Do ponto de vista do abastecimento, acho que o único caminho de ficarmos menos dependentes da energia hídrica é através da solar e da eólica. Em compensação, a gente acaba imprimindo no sistema uma intermitência maior e fica um pouco mais difícil equilibrar o sistema”, disse Marangon.

Uma forma de equilibrar essa conta seria através do armazenamento de energia centralizado, para poder dar mais segurança para a rede de transmissão. Além disso, cada vez mais o consumidor precisará investir em alternativas para ficar menos dependente da rede das distribuidoras. A solução, neste caso, também passaria pela combinação da energia solar com baterias.

“Esses são os desafios das mudanças climáticas. Elas vão fazer as nossas vidas ficarem mais difíceis e vão exigir do setor elétrico mais investimento para que a gente consiga enfrentar essas mudanças. Temos um paradoxo, se você optar por soluções mais limpas e sustentáveis, você acaba tendo uma inflação verde, porque você vai optar por opções que acabam sendo mais caras”, disse Marangon.

“Por outro lado, se você não fizer essa substituição do diesel, dos carros a combustão – que a princípio são mais baratos, a gente vai acabar pagando essa conta das mudanças climáticas. É uma coisa que a gente precisa equacionar para ver qual é o caminho mais barato, sem esquecer que se a gente não resolver agora, teremos que enfrentar esse aumento de custo de qualquer forma”, acrescentou.

Para Luiz Barroso, presidente da PSR, é necessário que o poder público e as empresas de energia tenham um olhar diferente em relação à segurança do suprimento elétrico e às mudanças climáticas.

“Pelo lado do governo, em primeiro lugar, começar a realizar imediatamente os estudos de planejamento já incorporando os efeitos das mudanças climáticas. O novo normal, ou melhor, o novo anormal climático, está aí para ficar. Mesmo com modelos climáticos ainda em teste e desenvolvimento, a informação do impacto é muito importante para a segurança do sistema”, disse Barroso

“Pelo lado das empresas, será cada vez mais importante calcular o risco climático dos seus ativos. Este risco possui um impacto físico e econômico bem diferente por segmento do setor, e demandará ações preventivas e corretivas específicas”, completou o especialista da PSR.

Edvaldo Santana, ex-diretor da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), disse que, já que as empresas não conseguem evitar que um evento climático afete a rede de distribuição, elas deveriam ter um protocolo de contingência mais eficiente para evitar que o consumidor fique mais de 24 horas sem energia.

“O setor está mais exposto às mudanças climáticas e isso vem acontecendo há algum tempo, mas essa crise se aprofundou. Agora não se pode mais falar no campo da especulação, é uma coisa real”, disse.

Segundo Cyro Vicente Boccuzzi, sócio diretor da ECOEE e ex vice-presidente Estatutário na AES Eletropaulo (atual Enel SP), desde 1992 as empresas de energia já tinham uma preocupação com os efeitos das mudanças climáticas sobre o setor elétrico.

Ele disse que ao longo dos anos foram feitos investimentos em sistemas de monitoramento climático e em protocolos de contingências para se preparar para esses eventos, porém hoje os eventos estão mais extremos.

“Acho que muita coisa avançou, mas alguns fundamentos foram perdidos no caminho. A verdade é que o setor elétrico precisa de um investimento massivo em transmissão e distribuição que não está sendo feito no Brasil e nem no mundo. A Agência Internacional de Energia (IEA) publicou um relatório recente sobre isso, manifestando a necessidade de investimento nas redes de transmissão e distribuição para fazer frente a essas mudanças climáticas”, disse Boccuzzi.

Para ele, um grande gargalo no Brasil é que o consumidor está pagando as contas do passado, o que abre pouco espaço para avançar na modernização dos sistemas. “Temos repasses com todos esses subsídios e isso não dá espaço para as empresas investirem. Isso são coisas que precisam ser alinhadas.”

Wagner Freire

Wagner Freire

Wagner Freire é jornalista graduado pela FMU. Atuou como repórter no Jornal da Energia, Canal Energia e Agência Estado. Cobre o setor elétrico desde 2011. Possui experiência na cobertura de eventos, como leilões de energia, convenções, palestras, feiras, congressos e seminários.

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