O PID (Potential Induced Degradation – degradação induzida por potencial) é um efeito indesejado de degradação do módulo fotovoltaico que pode causar perdas significativas de potência ao longo do tempo.
Um arranjo de módulos fotovoltaicos conectados em série apresenta tensão total igual à soma das tensões dos módulos individuais.
Como as células dentro do módulo estão conectadas em série, podemos enxergar esse arranjo como um circuito série contendo todas as células.
A tensão elevada a que cada célula está submetida pode dar origem a correntes de fuga indesejadas entre as células e outras partes dos módulos.
A carcaça metálica dos módulos é sempre aterrada, portanto em topologias de inversores que não permitem o aterramento do pólo positivo ou negativo do arranjo fotovoltaico existe uma diferença de potencial entre as células e as carcaças ou entre as células e o vidro.
Por exemplo, um módulo fotovoltaico possui cerca de 35 V de tensão durante a sua operação. Se este módulo estiver conectado em série com mais 20 módulos, tem-se uma tensão de string de 700 V.
Idealmente, as tensões dos polos positivo e negativo devem ser simétricas em relação à tensão de aterramento.
Caso isso seja verdade, as células mais próximas do pólo negativo estarão a uma diferença de potencial de -350 V em relação à carcaça metálica do módulo. A figura abaixo ilustra a distribuição de tensão de um arranjo fotovoltaico.
Essa diferença de potencial negativa pode induzir uma corrente de fuga entre as células e os outros elementos do módulo, causando uma mobilidade de íons que é prejudicial à geração de energia.
Essa mobilidade diminui a eficiência de geração da célula pois perturba o equilíbrio de cargas do semicondutor necessário para a geração de corrente. A mobilidade também pode causar corrosão interna dos componentes do módulo.
O efeito de PID é mais proeminente quando há tensão negativa entre a célula e o aterramento. A distribuição das células mais afetadas em um arranjo é mostrada abaixo.
Fatores ambientais externos também têm influência na intensidade do efeito de PID no módulo. A alta umidade diminui a resistência entre a carcaça metálica do módulo e o aterramento, e a alta temperatura ambiente eleva a mobilidade dos íons aumentando assim as correntes de fuga entre as células afetadas e os componentes do módulo.
Uma fonte importante dos íons indesejados vem da própria construção dos módulos. Vidros de baixa qualidade podem liberar íons de sódio durante o surgimento dessa corrente de fuga e encapsulantes de baixa qualidade permitem maior permeabilidade de umidade no módulo, agravando os efeitos do PID.
A relação entre inversores e o PID
Existem duas topologias de inversores disponíveis para o mercado solar: com ou sem transformador interno.
Inversores com transformador interno possuem um transformador responsável pela transmissão de energia de um circuito do inversor para o outro através do meio magnético, isto é, a entrada e a saída de energia são eletricamente separadas pelo transformador.
Esses inversores também podem ser chamados de galvanicamente isolados. Nesse tipo de inversor é possível conectar o aterramento ao polo negativo do arranjo, diminuindo assim a tensão negativa que influencia o surgimento do PID.
Os inversores do tipo sem transformador são os mais comuns do mercado, pois possuem algumas vantagens como menores custo, tamanho e peso e maior eficiência.
Porém, nesse tipo de inversor não é possível conectar o aterramento aos polos do arranjo fotovoltaico. Caso isso ocorra o inversor se desligará para evitar danos.
Nesse tipo de topologia as tensões positiva e negativa do arranjo tipicamente são simétricas à tensão do aterramento. Portanto, esse tipo de inversor favorece o aparecimento da tensão negativa que aumenta o efeito PID.
Como mitigar o efeito PID
Existem algumas ações que podem ser tomadas para se mitigar o efeito PID. A principal delas é selecionar módulos de qualidade, nos quais os fabricantes tenham utilizado materiais que diminuem o efeito do PID para próximo de zero, aumentando a resistência elétrica entre a célula e a carcaça metálica, diminuindo a entrada de umidade e diminuindo a disponibilidade de íons cedidos pelos materiais do módulo com o emprego de vidros de boa qualidade.
Caso seja uma opção compatível com o projeto, podem-se também utilizar inversores com transformador interno, uma vez que essa topologia permite o aterramento do condutor negativo do arranjo, o que ajuda a reduzir o efeito PID.
Existem ainda algumas tecnologias que podem ser integradas aos inversores ou aplicadas em outros equipamentos que diminuem o efeito PID.
Durante a noite o inversor ou o equipamento fornece uma tensão contrária à tensão de funcionamento do arranjo.
Como o PID surge da polarização entre as células e o painel, a aplicação de uma tensão contrária reverte a polarização que ocorreu durante o dia.
Uma parte dos efeitos negativos do PID pode ser revertida com a aplicação dessa tensão reversa.
Em geral os projetos fotovoltaicos já instalados podem operar com tensões de string de 1000 V e, com o avanço das tecnologias de módulos e inversores, já estão se popularizando sistemas que operam em 1500 V.
O movimento da indústria em migrar para sistemas de maior tensão de operação tornará as medidas anti-PID cada vez mais necessárias.