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O que é a lista Tier 1 e qual sua relação com a qualidade do módulo?

A classificação analisa fabricantes que tiveram produtos utilizados em projetos financiados por bancos internacionais

Autor: 4 de agosto de 2019janeiro 18th, 2021Artigos técnicos
6 minutos de leitura
O que é a lista Tier 1 e qual sua relação com a qualidade do módulo?

Este artigo visa esclarecer o significado do termo Tier 1, habitualmente enaltecido pelos fabricantes e vendedores de módulos fotovoltaicos.

Além disso, vai mostrar qual é a relação da denominação Tier 1 com a segurança e a qualidade do projeto fotovoltaico.

Existem no mundo centenas de empresas de fabricação de módulos fotovoltaicos, com diversas capacidades de produção, diferentes níveis de investimento em pesquisa, qualidade de produto e saúde financeira.

Com a recente alta do mercado fotovoltaico, principalmente em países asiáticos como China e Índia, o número de fabricantes de módulos teve um aumento considerável.

Surge então a necessidade de destacar os fabricantes com boa reputação e que honram seus compromissos financeiros e comerciais. Uma dessas classificações se denomina Tier 1.

A classificação de Tier 1,criada pela BNEF (BloombergNEF),  analisa os fabricantes cujos produtos foram utilizados em grandes projetos financiados por bancos internacionais.

A lista Tier 1

Para que um fabricante entre para a lista de Tier 1 é necessário que ele cumpra uma série de requisitos como:

  • Fabricar totalmente seus próprios módulos, isto é, não agregar células de terceiros em seus módulos. Isso acaba selecionando fabricantes com mais controle sobre sua produção e qualidade;
  • Ter fornecido  módulos para 6 ou mais projetos acima de 1,5 MW, que tenham sido financiado nos últimos 2 anos por bancos que não sejam de desenvolvimento;
  • Não ter pedido concordata (falência) ou não estar em insolvência.

O financiamento dos bancos também precisa ser do tipo non-recourse (ou sem recurso), no qual o banco financiador toma como garantia de empréstimo algum ativo do cliente (um imóvel, o próprio empreendimento fotovoltaico, etc) e não pode cobrar valores extras após a tomada desse ativo em caso de não pagamento.

Ou seja, se o banco realiza esse empréstimo para um projeto contendo painéis de fabricante que não honre suas garantias ou que tenha qualidade duvidosa, a produção da planta fotovoltaica fica comprometida, o risco de calote aumenta e o risco de o banco perder dinheiro mesmo com a tomada de ativos também aumenta.

Como esse tipo de empréstimo é arriscado para o banco, os critérios para a análise interna de qualidade dos componentes e do projeto são rigorosos. Porém, os bancos não divulgam publicamente quais os critérios internos adotados para a aceitação de um projeto fotovoltaico.

Como não se tem certeza de quais critérios foram considerados, não podemos assumir que a lista dos Tier 1 seja um indicativo definitivo de qualidade superior dos módulos. Só podemos assumir que os fabricantes têm boa bancabilidade, isto é, boa probabilidade de os projetos empregando seus módulos terem um financiamento aprovado.

Essa bancabilidade mostra que o fabricante é bem visto pelos bancos e é capaz de honrar seus termos de garantia e de suprimento.

A listagem dos Tier 1 então foca nos aspectos financeiros como: estabilidade, capacidade de honrar garantias e capacidade de suprir projetos. A classificação Tier 1 auxilia o projetista ou o cliente a selecionar um fabricante mais confiável para seus projetos, sem que o selo Tier 1 necessariamente tenha uma relação direta com a qualidade dos produtos.

A BNEF recomenda fortemente que não se use a lista Tier 1 como uma medida de qualidade e que se busque a análise de empresas qualificadas para tal, como DNV GL, TÜV Rheinland,  Clean Energy Associates entre outros.

Qualidade e Tier 1

Vamos tomar como exemplo a empresa de qualificação DNV GL citada pela Bloomberg NEF. A DNV GL é uma empresa norueguesa de certificação e análise de desempenho e qualidade para produtos de diversos setores.

Essa empresa produz relatórios anuais de confiabilidade e qualidade de módulos fotovoltaicos utilizando testes definidos nas normas IEC 61625,  IEC 61730 e UL 1703, além de auditoria da produção. Os módulos que apresentam a menor degradação e o melhor desempenho nos testes recebem o selo DNV GL Top Performer.

Figura 1: Fotografias em “raio-x” (teste de eletroluminescência) mostrando a degradação de um painel ao longo dos testes aplicados pela DNV GL

A lista dos fabricantes de módulos com melhor desempenho nos testes nos anos de 2017 e 2018 é mostrada abaixo.

É possível notar que nem todos os fabricantes Tier 1 estão na lista dos fabricantes de módulos de melhor desempenho da DNV GL ou de outras entidades certificadoras. Uma empresa pode satisfazer os critérios da BNEF mas, ao mesmo tempo, não ter seus produtos listados no grupo de módulos com melhor desempenho nos testes.

À primeira vista é possível concluir que um módulo fotovoltaico Tier 1tem boa qualidade – já que nenhum banco emprestaria dinheiro para um projeto com módulos ruins – e o fornecedor é capaz de honrar seus termos de garantia e de fornecimento.

Porém, não necessariamente um produto Tier 1 é o melhor, reforçando a própria orientação da BNEF: a classificação Tier 1 não dever ser usada como atestado de qualidade dos módulos fotovoltaicos.

Alguns fabricantes de módulos fotovoltaicos com produções expressivas como BYD, Jinko e Trina, aparecem nas duas listas, mostrando que o fabricante tem boa bancabilidade, podendo honrar suas garantias, além de simultaneamente também produzir módulos de qualidade superior.

Conclusão

Conclui-se que a listagem Tier 1 aponta uma certa qualidade e confiabilidade dos módulos, pois nenhum banco financiaria um empreendimento com produtos ruins, demonstrando que o fabricante tem uma boa política de garantia e possui grande capacidade de suprimento.

Porém, não necessariamente um produto listado como Tier 1 possui qualidade superior. A classificação Tier 1 engloba sobretudo aspectos da saúde financeira da empresa e não avalia tecnicamente a qualidade dos produtos. A qualidade dos módulos fotovoltaicos é verificada através de testes e avaliações de empresas certificadoras como as exemplificadas anteriormente.

O instalador, o projetista e o cliente de sistemas fotovoltaicos devem estar atentos para selecionar módulos de alta qualidade, como os produtos testados e certificados pelas empresas citadas no texto, e preferencialmente módulos cujo fabricante tenha uma boa reputação de garantia e suprimento.


Mateus Vinturini

Mateus Vinturini

Especialista em sistemas fotovoltaicos e engenheiro eletricista graduado pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Entusiasta de ciências e tecnologia, com experiência no ramo da energia solar, tanto no âmbito comercial como em projeto, dimensionamento e instalação de sistemas fotovoltaicos. 

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