Os projetos em desenvolvimento de hidrogênio verde no Brasil já somam mais de US$ 30 bilhões, o equivalente a aproximadamente R$ 150 bilhões na cotação atual. É o que informou Frederico Freitas, vice-secretário para hidrogênio verde do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa), em entrevista exclusiva ao Canal Solar.
Durante a conversa, o executivo também trouxe detalhes sobre as ações que vêm sendo coordenadas pela Pasta para o fomento deste combustível, destacou qual é o atual cenário do hidrogênio verde no país e afirmou que o Brasil tem tudo para liderar a produção da fonte no mundo em pouco tempo caso o Governo Federal defina as ações estratégicas para comercialização e uso da tecnologia energética.
A Secretária de Hidrogênio Verde do INEL foi criada em agosto do ano passado com o intuito de fomentar e acelerar o crescimento do combustível no Brasil. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com o vice-secretário do Instituto:
Frederico, quais são as frentes de atuação da Secretaria de Hidrogênio Verde do INEL?
O INEL é um instituto que defende a utilização de energias limpas, independente de qual fonte seja. Nosso papel com o hidrogênio verde é buscar os principais players do setor e as empresas que estão desenvolvendo projetos para que discutam com o nosso grupo de trabalho as suas experiências, de modo que possamos juntos fomentar políticas públicas e desenvolver estudos técnicos.
Além disso, o INEL participa de diversos fóruns internacionais e, no momento em que estamos desenvolvendo políticas públicas no Brasil, buscamos levar isso para os eventos e atuar como uma espécie de catalisador para atrair empresas internacionais e convencê-las de que investir no mercado brasileiro de hidrogênio é um excelente negócio. Esses são, basicamente, os dois eixos de atuação do nosso trabalho.
O senhor falou sobre a realização de estudos sobre hidrogênio verde dentro dessa secretaria. Quais seriam eles?
A principal questão nossa de desenvolvimento de estudos está voltada para o aproveitamento do potencial de produção de hidrogênio pelas rotas biológicas. Hoje, o mundo inteiro fala do hidrogênio, mas acaba limitando a discussão para a eletrólise.
Nós entendemos que o Brasil tem um potencial enorme de produzir hidrogênio por rotas biológicas. Nós também temos potencial para produzir esse combustível com etanol, biogás, biometano e biomassa. Não somos contra a rota da eletrólise, mas apenas entendemos que o Brasil pode liderar a produção de hidrogênio por diversas rotas.
E como o senhor enxerga o papel da energia solar no processo de produção do hidrogênio verde?
Não tenho a menor dúvida: não só a energia solar como outras fontes renováveis serão fundamentais nesse processo. No Brasil, as plantas de hidrogênio não vão depender somente de uma única fonte renovável, porque quem souber fazer uma boa usina de hidrogênio vai ter que saber trabalhar com um mix de fontes.
Os projetos que já estão em desenvolvimento são projetos, por exemplo, que usam de 10 a 15% do grid. Então, a energia solar tem papel fundamental, principalmente, na região Nordeste onde temos uma grande incidência de sol, enquanto as demais fontes também terão sua importância em outras regiões.
Falando em projetos de hidrogênio verde, qual é o atual cenário no Brasil?
Atualmente, os projetos anunciados no Brasil já superam as cifras dos US$ 30 bilhões (aproximadamente R$ 150 milhões). Só de energias renováveis, a carteira de projetos das empresas que integram o grupo de trabalho do INEL soma um adicional de 15 GW de energia para produção de hidrogênio verde no Brasil.
Esse 15 GW tem um potencial de produzir 1,5 bilhão de toneladas de hidrogênio verde por ano. No momento, temos entre quatro e cinco projetos sendo desenvolvidos no Brasil.
Os projetos da Unigel de fertilizantes em Camaçari (BA) e da Raízen Energy, que está fazendo um P&D com a Shell em São Paulo, são os que estão mais bem desenvolvidos. Os demais estão finalizando o processo de captação de recursos.
Já é possível trabalhar com uma estimativa de payback para as usinas de hidrogênio verde no Brasil?
Ainda é muito cedo para falarmos sobre payback, porque não é um cálculo simples e linear que se faz numa planilha. Existem outros desdobramentos que são frutos de ações de governo e que podem ou não trazer mais atratividade. Ainda precisamos de uma sinalização de como o governo vai apoiar essa indústria, seja com subsídios ou com investimentos fiscais, antes de fazer qualquer análise.
Com a grande procura dos países europeus pelo hidrogênio verde, o INEL acredita que o Brasil usará o hidrogênio verde mais para exportação que para uso doméstico?
Isso vai depender de uma política industrial de como o Brasil vai querer se posicionar nesse mercado. Quando a Europa fala que quer hidrogênio, ela tem uma finalidade clara para esse combustível: que é industrial para produção de itens manufaturados.
Nesse sentido, o Brasil precisa se posicionar e explorar ao máximo essa oportunidade. O que é melhor para o país: levar o hidrogênio para o Velho Continente para eles produzirem aço ou usar o hidrogênio verde para produzir aço verde internamente e depois vendê-lo para os países europeus? Essa posição precisa ser bem alinhada pelo Governo Federal.