O mercado já antevê um possível aquecimento na demanda por medidores inteligentes a partir da previsão de abertura total do ACL (Ambiente Livre de Contratação) de energia no final de 2027, conforme prevê a MP (Medida Provisória) 1.300/2025, recém-editada pelo governo com o objetivo de reformar o modelo do setor elétrico nacional.
O novo impulso não deve partir das concessionárias de distribuição de energia, mas por iniciativa dos agentes comercializadores. As empresas poderão oferecer a troca do equipamento convencional, como recurso diferencial competitivo na oferta de contratos de migração. Associado à venda de eletricidade a valores mais acessíveis, o uso do medidor inteligente permitirá ao então cliente, entre outras facilidades, gerenciar de maneira mais eficiente o seu padrão de consumo, inclusive por desempenho de cada um dos eletrodomésticos.
Como os medidores são parte dos ativos das distribuidoras, a substituição por modelo mais avançado e o seu uso compartilhado pelas comercializadoras poderá ser tema de regulação específica por parte da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Um acordo entre as partes interessadas, no entanto, também seria uma solução viável. Há registro de tratativa similar ocorrida por ocasião da abertura para os grandes consumidores, segundo a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
Riqueza de dados
Donato Filho, diretor-Geral da Volt Robotics, entende que, embora a medição eletrônica não seja uma necessidade absoluta para a abertura do mercado, já que os medidores atuais permitem o faturamento básico do consumo acumulado mensalmente, ele a considera “altamente desejável”. “Medidores inteligentes oferecem informações granulares, com leituras a cada cinco minutos. Essa riqueza de dados é fundamental para o mercado livre, pois permite a criação de produtos e serviços inovadores e personalizados”, destaca o executivo.
Donato afirma que o Brasil está significativamente atrasado na adoção de medição inteligente. Calcula cerca de 20 anos em comparação com outros países que já implementaram ou estão em fases avançadas de seus planos. Ele identifica como obstáculos principais a falta de tarifas diferenciadas, questões técnicas e burocráticas e a ausência de definição regulatória. Em meio a esse contexto, há alguns cases de destaque, contrapõe o diretor da Volt Robotics.
Ele cita o bem sucedido programa de substituição que a Copel, concessionária do Paraná, vem promovendo em sua área de concessão. A companhia acumula mais de um milhão de dispositivos inteligentes instalados.
“Indispensável”
Roberto Barbieri, assessor da área de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) concorda que a demanda por uma substituição em massa do parque de medidores por versões inteligentes nunca se firmou de maneira robusta.
Segundo Barbieri, o mercado anual de medidores – estimado entre 4,5 e 5 milhões de unidades – é dominado pelos dispositivos convencionais. Embora já sejam eletrônicos em termos de tecnologia, lembra, são modelos que apenas registram o consumo total de energia, sem oferecer informações adicionais ou capacidade de comunicação.
A principal força motriz para a instalação de medidores inteligentes no Brasil, de acordo com o executivo, tem sido a micro e minigeração distribuída, a exemplo das instalações de geração solar fotovoltaica. A possibilidade de corte e religação remota, medição à distância ou a implementação de tarifas diferenciadas não se mostrou um incentivo suficiente até o momento, até porque há ausência de produtos tarifários inteligentes.
Em contrapartida, Barbieri acredita que apesar de a migração para o mercado livre não exigir, a princípio, um medidor inteligente, ele se tornará indispensável para as comercializadoras que desejarem oferecer produtos e serviços diferenciados. “Para conquistar clientes, as comercializadoras precisarão oferecer tarifas com diferenciais horários, o que só é possível com um medidor capaz de distinguir o consumo em diferentes períodos do dia”, assinala.
Sobre um eventual modelo de negócio que possa viabilizar a troca de medidores quando da abertura total do mercado livre no final de 2027, o assessor da ABINEE avalia que a expectativa é que haja um acordo onde a comercializadora, às suas custas ou em conjunto com o consumidor, financie a substituição. Ele não descarta, porém, entendimentos entre comercializadoras e distribuidoras, como ocorrido no passado quando da migração dos primeiros grandes consumidores.
Valor na troca
Na visão da ABRACEEL (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia), ainda não é possível afirmar que a opção pela oferta de medidores inteligentes poderá se transformar num apelo de atratividade que vá diferenciar estratégias de abordagem da parte das comercializadoras.
“É difícil dizer o que os comercializadores vão oferecer de soluções, produtos e serviços aos consumidores porque isso são decisões comerciais que serão tomadas quando chegar o momento da abertura do mercado. Mas é razoável que alguns comercializadores possam enxergar valor na troca de medidores ou no fornecimento de equipamentos que desempenham papel de gerenciamento do consumo de energia”, aponta Rodrigo Ferreira, presidente-executivo da ABRACEEL.
Por outro lado, Ferreira lembra que há equipamentos que não são medidores, mas que instalados na estrutura elétrica interna de um consumidor, também mapeiam o uso de equipamentos e permitem até controle remoto. “É muito provável que isso seja oferecido no brasil a alguns consumidores, e depois isso vá se ampliando, da mesma forma que foi oferecido e é oferecido em outros mercados”, avalia.
Consultada, a ABRADEE (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica) informou, por nota, que a instalação de medidores inteligentes é uma medida de modernização das redes de distribuição e proporciona uma mudança de paradigma. De acordo com a regulação atual, assinala a entidade, a substituição de medidores convencionais por medidores inteligentes é uma prerrogativa da distribuidora de acordo com a sua estratégia de modernização das redes e o seu custeio é feito pela tarifa do universo de consumidores.
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