O primeiro semestre de 2023 foi marcado por uma redução significativa do preço dos módulos fotovoltaicos importados para o Brasil, sobretudo do mercado chinês, resultando na diminuição do investimento necessário para implementação dos projetos de energia solar.
Um estudo divulgado pela consultoria Greener, por exemplo, destacou que o aumento da capacidade produtiva chinesa resultou em um excesso de oferta de silício policristalino, levando a um grande estoque e uma consequente queda expressiva no preço.
Contudo, ao longo das últimas semanas, o valor dos painéis solares tem se mantido estável no mercado e levantado questionamentos por parte de integradores e empresas do setor solar. Afinal, como deverá se comportar o preço dos módulos fotovoltaicos até o fim do ano?.
Para tentar responder essa pergunta e deixar o mercado bem informado, o Canal Solar ouviu a avaliação de empresas e profissionais do setor de energia solar para saber quais são as perspectivas do mercado.
Felipe Santos, diretor de vendas da DAH Solar na América Latina, avalia que os preços dos módulos fotovoltaicos deverão subir a partir de outubro, mas nada que assuste o mercado nacional.
“Temos visto, nas últimas semanas, uma leve estabilização dos preços dos módulos fotovoltaicos, com pequenas quedas acontecendo em função dos fabricantes ainda estarem estocados. Ou seja, essas empresas estão reduzindo um pouco os preços para tentar limpar o seu estoque”, afirmou.
Em razão disso, Santos destacou que há uma tendência de alta dos preços dos módulos para os próximos meses, uma vez que aumentos já estão acontecendo na cadeia upstream (começo da cadeira produtiva, que engloba matérias primas como silício, wafers e células).
“No upstream, os preços já começaram a subir. Isso é um indicativo de que a cadeia para baixo já limpou o estoque e os fabricantes estão com novos produtos, fazendo com que os preços começassem agora a subir de polissilício, wafers e células”, disse ele.
Contudo, como na ponte de cima da cadeira as empresas ainda estão com estoque, o executivo da DAH Solar acredita que em até dois meses o preço dos módulos deva subir.
“Não acredito que os preços vão explodir, porque está tendo muita oferta. Diferentemente do ano passado, que teve uma demanda muito alta, hoje já foi adicionada muita capacidade de produção no sistema e não acredito que teremos falta de oferta de produtos”, ressaltou o executivo.
Roberto Caurim, CEO da Bluesun, comentou que já tem mais de um ano que ouve de seus fornecedores que os preços dos módulos fotovoltaicos vão aumentar, mas que, no período, o valor só diminuiu. “Entendo que chegamos no nosso preço limite e que não haverá mais reduções no valor dos módulos [em 2023]”, destacou.
Segundo o executivo, alguns fabricantes chineses estão divulgando que o preço dos painéis solares deverão aumentar daqui dois ou três meses, mas pontua que, mesmo que isso aconteça, não é algo que impactará o mercado nacional rapidamente, uma vez que diversas empresas do setor já aproveitaram o preço baixo dos produtos para renovar seus estoques.
Na prática, isso significa que mesmo que ocorram aumentos a partir de outubro, as distribuidoras brasileiras não teriam porque aumentar os preços dos módulos revendidos no país. “A Bluesun, por exemplo, renovou seu estoque recentemente pagando um preço muito baixo. É o mais baixo de toda a nossa história”, frisou ele.
Wladimir Janousek, diretor-executivo na JCS Consultoria e Serviços e especialista em mercado internacional, explica que o mercado apresentou recuperação dos preços do polissilício nas últimas semanas, com aumentos de 4,8% no início do mês e 1,5% na semana passada.
“Estes aumentos ainda não se refletiram nos preços de wafers, células e módulos, que se mantiveram estáveis, apresentando leve alteração. O cenário apresenta viés de alta, com retomada do volume de negócios e projetos e que devem resultar em aumento da demanda e reposicionamento dos preços dos insumos da cadeia, com consequente ajuste no preço dos módulos”, disse o executivo.
Segundo Janousek, estes reajustes estarão condicionados aos estoques e à capacidade ociosa da indústria na China. “Podemos ter referências de preços distintos entre os fabricantes, até que estes elementos tenham sido nivelados”, pontuou ele.