É hora de agir: curtailment não pode ser o novo normal da energia brasileira

Enquanto o vento sopra forte no Nordeste e o sol brilha com intensidade, usinas inteiras estão sendo desconectadas da rede
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Foto: Canva

O Brasil está cometendo um erro estratégico grave e silencioso: está desperdiçando a energia limpa que produz. Justo agora, às vésperas da COP30, quando o mundo nos observa e nos aponta como um dos líderes naturais da transição energética global, estamos impondo cortes à geração de usinas solares e eólicas.

O nome que estão dando a essa contradição? Curtailment. Mas o que ele realmente significa? Um freio ao nosso crescimento, um prejuízo bilionário para quem investe no país e um sinal de alerta para quem ainda cogita apostar no Brasil.

Hoje, mais de 87% da nossa matriz elétrica vem de fontes renováveis. Somos motivo de admiração internacional. Mas, enquanto o vento sopra forte no Nordeste e o sol brilha com intensidade, usinas inteiras estão sendo desconectadas da rede por falta de estrutura para escoar essa energia. Um desperdício inaceitável. Estamos jogando fora exatamente o que o mundo mais quer comprar: energia limpa, barata e renovável.

O cenário torna-se ainda mais preocupante quando lembramos que muitas dessas usinas foram construídas a partir de autorizações do próprio Estado brasileiro. O setor privado investiu imenso volume de recursos, confiando na segurança regulatória e nas diretrizes de expansão da matriz renovável.

Agora, em uma ação conjunta da ONS com a Aneel, essas mesmas usinas estão sendo impedidas de injetar energia no sistema. O resultado é um contrassenso técnico, econômico e jurídico, que coloca em xeque a credibilidade do país.

O impacto é enorme. Desde o agravamento do problema, em 2023, as perdas já superam R$ 2 bilhões. Só em 2024, mais de 14,6 TWh de energia renovável foram cortados — volume suficiente para abastecer milhões de lares brasileiros. Enquanto isso, seguimos acionando termelétricas caras e poluentes em outras regiões. Um paradoxo inaceitável sob qualquer ótica: técnica, econômica ou ambiental.

E o pior: investidores começam a repensar suas apostas no Brasil. Estamos passando uma mensagem ruim ao mundo: a de que aqui falta previsibilidade, planejamento e, principalmente, segurança jurídica para o setor de energia. Justamente o oposto do que deveríamos estar fazendo.

Como presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, minha posição é clara: o curtailment, que deveria ser uma exceção, usada apenas em momentos emergenciais, não pode virar o novo normal do sistema elétrico brasileiro. Precisamos enfrentá-lo com seriedade, rapidez e medidas concretas.

É urgente garantir a indenização justa e rápida às empresas afetadas, evitando uma avalanche de ações judiciais que só trariam ainda mais insegurança ao setor. Também é fundamental acelerar as obras de transmissão, ampliando a capacidade de escoamento entre o Nordeste e os principais centros de consumo do país.

Além disso, o Brasil precisa investir no armazenamento de energia e na modernização da matriz elétrica, com contratos mais flexíveis e inteligentes. Por fim, é indispensável fortalecer a governança regulatória, oferecendo previsibilidade, segurança jurídica e confiança tanto para quem já investiu quanto para quem ainda avalia apostar no nosso potencial energético.

A Comissão de Desenvolvimento Econômico vai liderar esse debate. Já neste semestre, promoveremos uma série de audiências públicas, reunindo órgãos reguladores (ANEEL, ONS, MME), investidores e governos estaduais. O objetivo é um só: construir um pacto nacional para acabar com o curtailment.

Estamos às portas de um dos eventos ambientais mais importantes do planeta, com todos os holofotes voltados para o Brasil. Não podemos chegar à COP30 como um país que promete o futuro, mas desperdiça o presente.

Resolver o curtailment é mais do que uma decisão técnica. É um compromisso moral, econômico e climático com as próximas gerações — e com todos aqueles que acreditam na força e no potencial de um Brasil verde, moderno e confiável.

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Lafayette de Andrada
Deputado federal (Republicanos/MG) e presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados.

Respostas de 3

  1. BRASIL DA PIADA PRONTA,E 3 PODERES IMPRESTÁVEIS E EXPLORADORES!!

    DONDE JÁ SE VIU A NAÇÃO EM 12 ANOS CHEGAR AO GRUPO DOS 10 MAIORES GERADORES DE ENERGIAS LIMPAS NO MUNDO, E POR FALTA DE ESTRUTURAS DE TRANSMISSÃO,ARMAZENAMENTO, ETC,CORTAR A PRODUÇÃO/INSERÇÃO BILIONÁRIA INVESTIDA POR VISIONÁRIOS,NAS ENERGIAS VERDES,POR CONTA DE INCOMPETENTES NOS 3 PODERES,TCHURMA QUE JAMAIS OLHOU A NAÇÃO,DE NATUREZA MAIS RICA E PROMISSORA DO MUNDO,COM O APREÇO E O RESPEITO DEVIDO!! COMECEM FECHANDO INSTITUIÇÕES PUBLICAS DO SETOR,CABIDOES DE EMPREGO DE MARAJÁS!! ABSURDO MEDONHO E VERGONHOSO FRENTE A BIOSFERA TERRESTRE ,75% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA A MARGEM DA MISERIA SOCIAL, NÃO TER RECURSOS PARA PAGAR UMA CONTA DE LUZ DE $150,00 AO MÊS, E VER BILHÕES, EM ENERGIAS RENOVAVEIS SEREM JOGADAS NO LIXO!!

  2. por que ao invés das empresas investirem mais em geração não investem em transmissão? todo mundo sempre soube que as linhas de transmissão do nordeste e norte sempre foram precárias e mesmo assim investiram lá, por que? Empresários são sempre assim ficam loucos com a oportunidade de lucro alto e depois a culpa é sempre dos governantes independente de quem sejam.

  3. Dr Lafayette. O senhor tem toda razão. E digo mais…isso acontece para atender interesses específicos em detrimento do interesse coletivo. Absurdo. Como ex Diretor do MME fico estarrecido com o que está acontecendo. Atenciosamente

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