Dimensionamento das proteções em cabines primárias para usinas solares

Confira as principais funções para a conexão de usinas fotovoltaicas exigidas pelo PRODIST
Dimensionamento das proteções em cabines primárias para usinas solares
Foto: CS Consultoria

Nos últimos anos, as usinas fotovoltaicas têm crescido significativamente, em especial as conexões de minigeração. Por definição, a minigeração refere-se a uma central geradora com potência instalada superior a 75 kW e até 5 MW para fontes despacháveis e de até 3 MW para fontes não despacháveis.

Uma fonte é considerada despachável quando a usina possui um sistema de armazenamento que corresponde a 20% da capacidade de geração mensal.

Na maioria das vezes, esse tipo de conexão precisa ser realizado no SDMT (Sistema de Distribuição de Média Tensão), que operam em tensões entre 1 kV e 69 kV, exigindo a construção ou modernização de uma subestação para viabilizar a injeção de geração ao sistema elétrico.

Para essas conexões, as concessionárias de energia exigem que o acessante elabore, dentre vários estudos, formulários e documentos, um estudo de coordenação e seletividade do sistema de proteção.

Nesse estudo, o acessante deve apresentar o cálculo e os valores sugeridos para implementação no relé de proteção da sua cabine primária, de forma a atender os critérios estabelecidos pela concessionária quanto à seletividade das proteções.

É importante lembrar que a proteção deve ser ajustada conforme os critérios estabelecidos pela distribuidora. Nesse sentido, o PRODIST (Procedimento de Distribuição), em específico o Módulo 3, trata do acesso ao sistema de distribuição da concessionária.

Esse documento estabelece as instruções detalhadas e os requisitos para a conexão ao sistema de distribuição de energia elétrica, conforme disposto na Resolução 1.000/2021, que trata das Regras de Prestação do Serviço Público de Distribuição de Energia Elétrica.

As principais funções de proteção junto à interface com a rede da conexão de minigeração distribuída estão indicadas na Tabela 1-A do PRODIST.

Tabela 1 – Funções de proteção junto à interface da microgeração ou minigeração

Além das funções listadas na tabela acima, a distribuidora pode propor proteções adicionais ou dispensar alguma proteção, desde que justificado tecnicamente, em função de características específicas do sistema de distribuição acessado, sem custos para a microgeração distribuída.

É importante ressaltar que o paralelismo das instalações de usinas fotovoltaicas com o sistema da distribuidora não pode causar problemas técnicos ou de segurança aos demais usuários, ao sistema de distribuição acessado e ao pessoal envolvido com a sua operação e manutenção.

Abaixo são listadas as principais funções para a conexão de usinas fotovoltaicas exigidas pelo PRODIST e pelas normas de fornecimento das concessionárias.

Essas funções de proteção não necessariamente devem ser realizadas pelo mesmo dispositivo, algumas delas são aplicadas, por exemplo, no inversor de frequência e outras no relé de proteção, que pode atuar no disjuntor de média tensão.

  • Função de proteção de subtensão (27): Esta função é responsável por monitorar subtensões de fase. É convencionado que a uma subtensão acontece quando a tensão nominal cai a valores abaixo de 80%, é estabelecido desta forma uma tensão mínima fase-fase aceitável.
  • Função de proteção de sobretensão (59): Esta função é responsável por monitorar sobretensões de fase. É convencionado que a uma sobretensão acontece quando a tensão nominal sobe a valores acima de 115%, é estabelecido desta forma uma tensão máxima fase-fase aceitável.
  • Subfrequência e sobrefrequência (81U/O): Esta função desconecta a Usina Fotovoltaica da rede elétrica da concessionária quando a frequência da rede oscila fora do intervalo de trabalho dos inversores. Atua quando a frequência do sistema se desvia dos valores nominais por determinado tempo, em determinado valor e/ou taxa de variação.
  • Função de proteção contra desequilíbrio de corrente entre fases (46): Esta função monitora as correntes de fase de forma a evitar que ocorra desequilíbrios de fase a ponto de gerar desbalanceamento de cargas.
  • Função de proteção contra reversão e desequilíbrio de tensão (47): Esta função monitora a ordem em que os fasores de tensão alcançam seu valor de pico. Esta função não implica em valores de ajustes, apenas que seja habilitado no relé a sequência de fase ideal para a aplicação, de forma que ele opere sobre o disjuntor caso a sequência mude, evitando que a lógica operacional das outras funções de proteção seja prejudicada.
  • Sobrecorrente instantânea de fase (50): Esta função monitora a corrente instantânea de fase, levando em consideração a corrente inrush, pois não é desejável que ela atue sobre o disjuntor toda vez que o transformador for energizado.
  • Sobrecorrente instantânea de neutro (50N): Esta função monitora a corrente instantânea de neutro.
  • Sobrecorrente temporizada de fase (51): Esta função monitora a corrente de fase em regime permanente, com tempo de atuação superior à da unidade instantânea.
  • Sobrecorrente temporizada de neutro (51N): Esta função monitora a corrente de neutro em regime permanente.
  • Sincronismo (25): Esta função monitora o sincronismo entre os inversores da Usina Fotovoltaica com a rede da concessionária.
  • Função de espera de tempo de reconexão (62): Esta função monitora o sistema após uma “desconexão” devido a uma condição anormal da rede, o sistema de geração distribuída não pode retomar o fornecimento de energia à rede elétrica (reconexão) por um período estipulado pela concessionária.
  • Sobretensão de neutro (59N): Esta função monitora a tensão de neutro em regime permanente, muito utilizada com o intuito de eliminar os defeitos relacionados a faltas monofásicas em sistemas isolado, faltas monofásicas de alta impedância, perda de fase ou desbalanço severo de tensão.
  • Sobrecorrente direcional de fase (67): Esta função monitora a direcionalidade e intensidade das correntes de curto-circuito nos condutores de fase.
  • Sobrecorrente direcional de neutro (67N): Esta função monitora a direcionalidade e intensidade das correntes de curto-circuito no condutor de neutro.
  • Direcional de potência (32): Esta função monitora sobrepotência direcional no sentido da usina fotovoltaica para a concessionária. Normalmente a potência de injeção máxima tem a tolerância de 5% acima da potência nominal.
  • Sobrecorrente temporizada de fuga a terra (51GS): Esta função monitora a corrente de falta à terra em regime permanente.
  • Sobrecorrente com restrição de tensão (51V): Essa função é utilizada para deslocar a curva das funções de sobrecorrente quando houver uma redução da tensão medida pelos TPs (Transformadores de Potencial). Essa função tem como objetivo acelerar o trip da função de sobrecorrente de acordo com a redução da tensão.

Conclusão

É importante destacar a grande variação nas exigências das diferentes concessionárias existentes no Brasil. Para obter um detalhamento mais preciso das funções de proteção exigidas e dos parâmetros a serem seguidos, é fundamental consultar as normas específicas de cada concessionária.

Assim, é possível obter as informações necessárias para definir a configuração adequada para a subestação e realizar os ajustes de proteção específicos, tanto para modernização de cabines primárias já existentes quanto para novas instalações.

Artigo publicado na 24ª edição da Revista Canal Solar.

As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.

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Denilson Lima
Graduado em Engenharia Elétrica, especialista em gestão de ativos do setor elétrico pela Universidade Estadual de Campinas. Com três décadas de experiência no setor elétrico, atuou em áreas de gestão de ativos, operação do sistema elétrico, engenharia e planejamento elétrico, além de atuação como professor universitário nos cursos de graduação em Engenharia Elétrica, Civil, Mecatrônica, Mecânica, Ambiental e Química, além de professor do Canal Solar no curso Avançado de Projeto de Usinas Solares de GD - 3MW e de Projeto de Cabine Primária para Usinas Solares.

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