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Países do G-20 fornecem quase US$ 700 bi em apoio a combustíveis fósseis

BNEF aponta que é preciso acelerar drasticamente a mudança para energia limpa e longe do carvão
08-11-22-canal-solar- Países do G-20 fornecem quase US$ 700 bi em apoio a combustíveis fósseis
Vista aérea de uma usina de carvão. Foto: Envato Elements

Os 19 países membros do G-20 forneceram US$ 693 bilhões em apoio a combustíveis fósseis em 2021, retardando assim o progresso no alcance das metas do Acordo de Paris, de acordo com um novo relatório divulgado pela BNEF (BloombergNEF).

“Essa soma bastante substancial distorceu os preços, incentivou o uso e a produção potencialmente desperdiçadores de combustíveis fósseis e resultou em investimento em equipamentos e infraestrutura de longa duração e emissões intensivas”, disse o estudo.

O relatório da BNEF avalia o progresso feito por cada nação do G-20 em três áreas políticas concretas: eliminar gradualmente o apoio aos combustíveis fósseis; colocar um preço nas emissões; reforçar a divulgação dos riscos climáticos.

A pesquisa visa aumentar a transparência e informar as prioridades políticas antes da Cúpula do G-20 na Indonésia e da conferência climática COP27 no Egito, onde grande parte da discussão se concentrará em como cumprir as muitas promessas e metas anunciadas na COP26 em Glasgow, na Escócia, há um ano. .

“Os governos continuam a subsidiar combustíveis fósseis – minando as promessas que fizeram, prejudicando a saúde pública e diminuindo nossas chances de evitar os piores impactos das mudanças climáticas”, ressaltou Michael R. Bloomberg, enviado especial do Secretário-Geral da ONU para Ambição e Soluções Climáticas e fundador da Bloomberg LP e da Bloomberg Philanthropies.

“Precisamos acelerar drasticamente a mudança para energia limpa e longe do carvão e outros combustíveis fósseis, e este relatório destaca alguns dos passos mais importantes que os governos podem tomar”, relatou.

A parcela de apoio a combustíveis fósseis do G-20 alocada ao carvão está diminuindo lentamente – de 4,1% em 2016 para 2,9% em 2021. Mas o carvão ainda atraiu um total de US$ 20 bilhões em apoio do governo no ano passado.

Segundo o estudo, o esforço para eliminar gradualmente o apoio aos combustíveis fósseis concentrou-se no carvão, incluindo promessas anunciadas nas recentes cúpulas do G-20 e na COP26.

Embora as estimativas para 2021 sejam provisórias, elas sugerem que os gastos com apoio aos fósseis aumentaram 16%. Esse pico não se deve apenas à recuperação econômica e ao maior uso de eletricidade, pois o total de 2021 foi 5% superior a 2016, ano em que o uso de energia foi aproximadamente nivelado.

De fato, de acordo com a BloombergNEF, o aumento de 2021 foi impulsionado por um aumento de 16% no apoio aos produtores e serviços públicos de combustíveis fósseis.

“Os governos do G-20 e do G-7 anunciaram uma série de compromissos aparentemente mais ambiciosos para eliminar gradualmente os subsídios aos combustíveis fósseis”, disse Victoria Cuming, chefe de política global da BloombergNEF.

“Porém, eles sempre parecem incluir linguagem imprecisa e advertências, dando aos governos espaço de manobra para interpretar essas promessas como quiserem. A análise da BNEF mostra que parece haver poucas evidências de que esses países cumpram suas promessas”, apontou.

Países que mais apoiaram

No nível nacional, a China pode ter sido responsável pela maior parcela (26%) do apoio ao combustível fóssil do G-20 em 2020 (o último ano para o qual dados em nível de país estão disponíveis).

Contudo, a BNEF afirmou que o país está bem abaixo de outros membros do G-20 em uma base per capita – US$ 111 em 2020 em comparação com, por exemplo, Arábia Saudita (US$ 1.433), Argentina (US$ 734) e Canadá (US$ 512).

Já os Estados Unidos têm o menor total per capita do G-20 (US$ 34 em 2020), mas forneceram 57% a mais desses subsídios em 2020 em relação a 2016.

Para liderar efetivamente a eliminação do carvão e de outros combustíveis fósseis, o relatório enfatizou que os países do G-20 devem introduzir um preço de carbono significativo, para que empresas e consumidores paguem por suas emissões de gases de efeito estufa.

No total, 12 países membros do G-20 têm precificação nacional de carbono. A Europa e o Canadá continuam sendo líderes do G-20 em políticas robustas de carbono.

Em particular, os preços estão próximos ou muito acima do nível necessário para limitar o aquecimento global a 2°C acima dos níveis pré-industriais até o final do século. O Banco Mundial estima que essa faixa seja de US$ 40-80 por tonelada métrica até 2020 e US$ 50-100 até 2030.

Os outros países do G-20 com esquemas nacionais têm um preço médio de carbono de US$ 8/ton e os EUA, que têm vários estados programas de nível, possuem um preço médio de $ 9/ton.

A maioria desses programas, segundo o estudo, é menos eficaz, pois cobre uma parcela tão pequena das emissões nacionais ou oferece concessões muito generosas para os participantes.

A terceira área prioritária na visão da BNEF é reforçar a divulgação de riscos climáticos por empresas e instituições financeiras. “Os formuladores de políticas estão mais do que nunca expressando preocupação de que as mudanças climáticas representam grandes riscos para a estabilidade financeira”.

“No entanto, dos países do G-20, apenas a UE e o Reino Unido aprovaram leis ou regulamentos para obrigar a divulgação nacional de riscos climáticos específicos para investidores, enquanto os EUA emitiram uma proposta para dar esse passo. Em vez disso, a maioria dos governos do G-20 chegou ao ponto de lançar projetos-piloto e emitir documentos de orientação voluntária”, disse o relatório.

“Isso pode marcar uma mudança na retórica e ajudar a melhorar as capacidades dos participantes do mercado financeiro sem ser muito disruptivo para as práticas atuais do mercado. Mas esse tipo de abordagem voluntária permite que as instituições adiem a ação”, concluíram.

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Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.
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