Nos últimos anos, a geração distribuída de energia solar ganhou destaque como uma fonte limpa e sustentável, permitindo que residências e empresas produzam eletricidade a partir da luz solar.
No entanto, um desafio significativo tanto para os consumidores quanto para as operadoras de energia é a chamada “inversão de fluxo de energia”.
A inversão de fluxo ocorre quando a quantidade de energia elétrica produzida pelos sistemas de geração distribuída excede a demanda dos consumidores conectados à mesma rede de distribuição.
Esse excesso pode ocasionar problemas como sobrecarga, desequilíbrio de tensão e interrupções no fornecimento de energia elétrica.
Esse problema tem sido frequentemente utilizado pelas concessionárias de energia elétrica como argumento para suspender ou negar a implantação de projetos de energia solar em residências, pequenos comércios e indústrias.
O aumento nas suspensões e cancelamentos de projetos fotovoltaicos por parte das concessionárias de energia elétrica já resultou em um prejuízo estimado em mais de R$ 3 bilhões para o setor, de acordo com dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
De acordo com um levantamento realizado com 715 empresas de instalação, há cerca de 1 GW em projetos represados pelas concessionárias, somando um total de 3,1 mil pedidos de conexão cancelados e suspensos nos últimos meses.
Para enfrentar esse desafio, a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) estabeleceu regulamentações específicas, como a Resolução Normativa ANEEL nº 1.000/2021.
Conforme essa regulamentação, as operadoras de energia devem realizar estudos para identificar soluções viáveis para eliminar a inversão de fluxo. Essas soluções incluem a reconfiguração de circuitos, a definição de novos circuitos elétricos, conexões em níveis de tensão superiores e até mesmo a redução da potência injetada.
Os consumidores que desejam adotar a geração distribuída de energia solar desempenham um papel fundamental nesse processo. Eles devem aprovar o orçamento de conexão e, quando se trata de conexões que podem resultar em inversão de fluxo, devem escolher entre as alternativas apresentadas pelas distribuidoras.
No entanto, a implementação dessas regulamentações nem sempre é direta. Muitas distribuidoras de energia têm interpretado erroneamente as diretrizes, resultando em práticas irregulares.
Alguns dos desafios comuns incluem a não emissão de orçamentos de conexão com base na alegação de inviabilidade técnica, emissão de orçamentos inadequados e até mesmo a paralisação de conexões em curso, causando atrasos significativos para os consumidores.
Diante dessas práticas irregulares, é recomendável que os consumidores ajam de maneira proativa. Medidas administrativas perante a ANEEL ou ações judiciais podem ser necessárias para garantir que os direitos dos consumidores sejam respeitados e que as regulamentações sejam aplicadas corretamente pelas distribuidoras de energia elétrica.
A inversão de fluxo de energia é um desafio real na adoção da geração distribuída de energia solar, mas também é um desafio que pode ser superado com base nas regulamentações e diretrizes estabelecidas pela ANEEL.
Para mitigar esse problema, a instalação de inversores híbridos têm ganhado espaço, reduzindo as chances de reprovação em projetos de geração distribuída, uma vez que evitam a inversão de fluxo.
No entanto, apenas essa medida não é suficiente. É fundamental que os consumidores estejam cientes de seus direitos e estejam dispostos a tomar medidas quando necessário para garantir um ambiente justo e eficiente para a produção de energia solar.
A energia solar distribuída continua sendo uma parte vital da transição para um futuro mais sustentável e energeticamente eficiente.
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Uma resposta
Excelente artigo, Bruno!
“É fundamental que os consumidores estejam cientes de seus direitos e estejam dispostos a tomar medidas quando necessário para garantir um ambiente justo e eficiente para a produção de energia solar.”
Conhecimento sempre é a melhor estratégia, a antecipação de movimentos também, na Europa está se falando muito em sistema off grid, talvez se no Brasil os consumidores dessem maior atenção (é certo que o valor das baterias ainda é salgado), mas quando as distribuidoras/concessionárias virem o caixa baixar, elas pensem em somar forças ao invés de usar a má fé impedindo o desenvolvimento sustentável, limpo e eficiente de acontecer no Brasil.