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Gargalo: financiamento para energia solar deve destravar no 2º semestre 

Fatores políticos, econômicos e de mercado têm deixado bancos com receio de liberar créditos para diversos setores

Autor: 25 de maio de 2023Brasil
7 minutos de leitura
Gargalo: financiamento para energia solar deve destravar no 2º semestre 

Cenário macroeconômico obrigou bancos a restringir a liberação de crédito no Brasil. Foto: Freepik

As empresas e consumidores de energia solar estão encontrando muitas dificuldades, neste começo de ano, para aprovar financiamentos de projetos fotovoltaicos junto aos principais bancos do país. 

Este fato, inclusive, é apontado pelo mercado como um dos principais gargalos que tem limitado as vendas do setor neste início de ano.

O problema ocorre por uma série de fatores socioeconômicos que tem deixado grande parte das instituições financeiras com receio de liberar créditos para as aquisições de diversos bens de serviços, entre eles o de energia solar. 

Parte deste receio tem relação direta com a crise vivenciada pelas Lojas Americanas – que,  logo no começo do ano, de uma hora para outra – passou a apresentar dívidas bilionárias com instituições como Bradesco e Santander, dois dos principais credores da rede de varejo.

Além disso, a manutenção da taxa básica de juros no valor de 13,75% ao ano pelo Copom (Comitê de Política Monetária) e as instabilidades políticas causadas pela troca de Governo também ajudaram a fazer com que os bancos passassem a se tornar mais rigorosos no momento da aprovação de qualquer tipo de financiamento.

Segundo Ayres Bernardes, diretor de operação da Sol Agora, uma fintech que oferece créditos para o setor solar, praticamente todos os bancos do Brasil fizeram ajustes específicos para que a liberação de créditos ficasse mais rigorosa, por medo de inadimplência de seus clientes diante do cenário macroeconômico. 

O executivo explica, por exemplo, que uma das ações adotadas para controlar a oferta de créditos no mercado foi a necessidade dos clientes apresentarem uma maior pontuação em seu score parâmetro que leva em consideração os hábitos de pagamento do cliente e a partir do qual os bancos decidem se liberam um empréstimo ou um financiamento. 

Bernardes destaca, contudo, que – mesmo com um bom score – muitos consumidores também passaram a ter o crédito negado por algumas instituições em razão de um fator chamado de comprometimento de renda. 

“Imagina que um cliente com score bom tenha uma renda de R$ 2 mil por mês e que o valor da parcela que ele quer fazer é de R$ 1 mil. Isso significa que ele vai comprometer 50% da sua renda. Se o limite imposto pelo banco é de 30%, o cliente não vai ter o crédito aprovado mesmo tendo um score bom”, explicou. 

“Não é o caso da Sol Agora, mas sabemos que alguns bancos tiveram até aumento da sua inadimplência, inclusive, com carteiras atrasadas por parte de consumidores que adquiriram sistemas de energia solar”, comentou Bernardes, justificando o receio dos bancos em emprestar dinheiro também para consumidores do setor. 

Todos estes problemas trouxeram impactos imediatos nos integradores de energia solar. “Está muito difícil, os bancos estão muito burocráticos, as taxas cobradas estão muito altas e os nossos clientes estão sem opções. Esses dias fui fechar um projeto no Banco do Brasil e, mesmo com o cliente tendo um bom score, quase não conseguimos a aprovação”, disse Warley Motta, sócio-proprietário da MS Solar, em Nova Friburgo (RJ). 

Taxa de juros

Nos últimos anos, o financiamento tem sido a saída mais viável para que muitas pessoas pudessem ter acesso a energia solar em suas residências, comércios e afins. 

Contudo, o crescimento elevado da taxa de juros no Brasil nos últimos dois anos tem afastado essa possibilidade, que impacta diretamente na venda dos sistemas. 

Dados do Copom mostram que o valor da Selic aumentou de 2% ao ano, de março de 2021 para os atuais 13,75% – o maior índice desde novembro de 2016, quando a taxa básica de juros cobrada era de 14% ao ano, conforme ilustra a imagem abaixo: 

Para Eduardo Nicol, integrador e diretor-geral de operações da Renew Energia, o crescimento da taxa de juros vem trazendo, desde o ano passado, dificuldades para empresas que trabalham com clientes com menor poder aquisitivo. 

“O nicho de clientes de alta renda não está pagando essa taxa de juros para comprar um sistema de energia solar. Estão pagando à vista ou utilizando outros métodos, como o cartão de crédito em 10 vezes sem juros. Já quem está trabalhando com clientes de classes B, C e D estão sentindo um impacto com relação às exigências bancárias”, disse ele. 

Taxa de juros é o maior dos problemas?

Que as altas taxas de juros atrapalham o setor, não há dúvidas. Impactam diretamente no valor das parcelas e no custo final pago pelo projeto e também,  fazem com que os investimentos “concorrentes” como por exemplo, os de renda fixa (Tesouro, CDB, LCI, LCA, etc)  fiquem mais atrativos, principalmente para investidores mais imediatistas.

Entretanto, para Nuno Verças, managing director da Sol Agora, mesmo com as taxas mais elevadas, a aquisição de sistemas fotovoltaicos segue sendo um investimento extremamente atrativo. 

“Há um ano e meio atrás tínhamos uma taxa de juros mais baixa e o consumidor final conseguia ter o valor da parcela do financiamento igual ao valor da conta de luz. Hoje, isso não mudou, o cliente consegue ter a mesma situação, pois apesar das altas taxas de juros o preço do kit gerador diminuiu consideravelmente. No final, os juros não mudaram muita coisa para o consumidor”.

Nuno destaca ainda que não falta liquidez no mercado, e que a grande questão é a maior cautela por parte dos bancos em meio ao cenário de incertezas macroeconômicas.

Perspectivas para o 2º semestre

Alexandre Ferreira, CEO da Bluesun Serviços Financeiros, não acredita em uma melhora gritante para aprovação de crédito no segundo semestre por parte dos grandes bancos. No entanto, ressalta que o cenário não deverá ser tão ruim como neste começo de ano. 

Para ele, os grandes bancos, como Santander, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil, dificilmente vão mudar a sua política de atuação com relação ao crédito para o setor de energia solar, uma vez que não dependem deste mercado. 

“Os grandes bancos colocam o financiamento solar dentro dos seus cardápios de oferta de forma complementar. Eu falo isso com conhecimento de causa, porque já trabalhei em grandes bancos por mais de uma década”, ressaltou.

Já com relação aos bancos que vivem do serviço de financiamento para sistemas de energia solar, a situação será diferente. “Como esse produto é muito relevante no resultado final da empresa, existe a tendência de haver uma maior criatividade para aprovação dos créditos”, comentou. 

Segundo ele, muitas destas empresas buscarão ser mais assertivas na escolha dos clientes. “Não é uma questão de ser mais flexível e aceitar clientes que não deveria estar aceitando, mas ser mais preciso no crédito.

Nessa linha, Bernardes  revela que a Sol Agora, por exemplo, já estuda a possibilidade de flexibilizar a liberação do crédito. “Muito disso é porque estamos percebendo que a nossa carteira está estabilizada”.

Verças complementa que conhecer o mercado de energia solar, faz toda a diferença. “Nós temos a clara noção de quais são as necessidades do integrador e do consumidor final de energia solar e não tratamos este financiamento da mesma forma como se fosse financiar uma televisão ou um carro. No segundo semestre, começaremos a ter um retorno das liberações. Não vai ser de uma hora para outra, mas estamos otimistas que no médio prazo isso acontecerá. 

Henrique Hein

Henrique Hein

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como repórter do Jornal Correio Popular e da Rádio Trianon. Acompanha o setor elétrico brasileiro pelo Canal Solar desde fevereiro de 2021, possuindo experiência na mediação de lives e na produção de reportagens e conteúdos audiovisuais.

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