A IRENA (Agência Internacional de Energia Renovável) e a Bluerisk, especialista global em avaliação e gestão de riscos hídricos, realizaram uma análise que afirma que a produção de H2V (Hidrogênio Verde) utiliza quase um terço a menos de água por quilo do que o H2A (hidrogênio azul).
O relatório “Water for Hydrogen Production” recomenda que as usinas de produção de hidrogênio que são sustentadas por combustíveis fósseis sejam retiradas globalmente.
Um projeto de lei recém-aprovado na Câmara dos Deputados, visa regular esse setor, e admite o uso de usinas térmicas a gás natural para produzir hidrogênio, mas o texto será analisado pelo Senado.
“Nossa análise joga luz sobre um aspecto frequentemente negligenciado do papel do hidrogênio na transição energética: o impacto hídrico da produção de hidrogênio limpo”, disse Ute Collier, diretora interina do Centro de Conhecimento, Política e Finanças da IRENA.
Para a diretora, “algumas formas de produção de hidrogênio que buscam reduzir as emissões de gases de efeito estufa, na realidade, aumentarão o risco de estresse hídrico em escala local, incluindo o fato de que o hidrogênio verde é a melhor escolha para ajudar a alcançar a meta climática de (aquecimento global de) 1,5°C do mundo”.
O estudo destaca que o H2V é uma opção de combustível mais sustentável comparado aos combustíveis fósseis. Ele precisa apenas de dois componentes para ser produzido – água e energia, (no caso de fontes renováveis). Essa tecnologia, ao ser consumida, não produz resíduos, a não ser o vapor d’água.
Segundo a análise, a demanda global de água para o hidrogênio está programada para triplicar até 2040 e aumentar seis vezes até 2050. O hidrogênio que mais precisa desse recurso é o que é feito a partir do CCS (carvão com sistemas de captura e armazenamento de carbono), que tem uma intensidade de água mais de duas vezes superior à do hidrogênio verde.
“Sistemas de captura e armazenamento de carbono podem fazer com que a demanda de água para a produção de hidrogênio alcance níveis alarmantes. Adicionar CCS a uma usina de carvão que produz aproximadamente 230 quilotoneladas de hidrogênio anualmente exigiria um volume de água que poderia sustentar toda a população de Londres por meio ano”, explica Tianyi Luo, diretor da Bluerisk.
“Os resultados são claros: os formuladores de políticas devem priorizar o hidrogênio verde acima de tudo, especialmente em regiões com escassez de água”, complementa.
O relatório destaca a necessidade de incorporar considerações sobre a água no planejamento e na aprovação de projetos de hidrogênio. Isso se deve ao fato de que mais de um terço dos projetos de produção de hidrogênio verde e azul, seja em fase de planejamento ou já em operação, estão situados em áreas altamente propensas à escassez de água.
Essa situação expõe tais projetos ao risco de enfrentar interrupções e incertezas relacionadas a regulamentações ambientais caso a gestão da demanda de água não seja realizada de maneira adequada. Isso é especialmente evidente em regiões como o Nordeste, onde estão previstos planos para a instalação de plantas de hidrogênio verde.
O relatório também destaca que o hidrogênio verde também promete reduzir cada vez mais a dependência de água com a adoção de resfriamento a ar e melhorias na eficiência da eletrólise, uma vez que um aumento de 1% na eficiência da eletrólise resulta em uma redução de 2% nos requisitos de água.