Menor taxa de juros, simplicidade e flexibilidade na aprovação do crédito são fatores relevantes para alavancar o volume de financiamentos no setor solar. Contudo, Fábio Carrara, CEO da Sólfacil, fintech que financia projetos de energia solar, afirma que é preciso também alongar o prazo para trazer uma economia imediata ao cliente.
“Uma das batalhas que fizemos questão de comprar quando lançamos a linha da Solfácil foi trazer para o mercado prazos mais alongados, pois não basta apenas uma taxa de juros baixa, por exemplo. Por isso, apesar de sermos uma fintech, somos uma das poucas instituições que possuem prazos de 10 anos para o financiamento”, destaca Carrara.
Segundo o executivo, é bastante desafiador no Brasil viabilizar isso, já que o mercado de capitais brasileiro tem uma visão de curto prazo. “O segmento tem bastante receio de se prender a créditos que são muito alongados. Mas, provamos que temos mecanismos de qualidade e conseguimos trazer grandes fundos para comprarem nossas debêntures”.
O especialista ressalta ainda que os bancos tradicionais que possuem linhas de financiamento têm sido relevantes para o setor, porém, cada um tem suas vantagens e desvantagens. “Por exemplo, alguns exigem abertura de conta-corrente para fazer o empréstimo, outros são mais burocráticos e exigem nota fiscal que muitas vezes não se adéquam a realidade do mercado. No caso da Solfácil, ela se diferencia porque acordamos e dormimos pensando só em energia solar. Acreditamos que isso nos traz mais agilidade e flexibilidade com relação aos bancos que atuam em diversas áreas, que acabam sendo mais engessados”.
Mercado de GD
Fábio Carrara ressalta que o segmento de GD (geração distribuída) fotovoltaica é um mercado anticíclico, que gera economia para as pessoas e cresce muito rápido. “O setor vai gerar algumas dezenas de bilhões de reais ao longo dos próximos cinco anos. A nossa visão é que grande parte disso vai ser financiado. Em 2015, apenas 15% dos sistemas eram financiados. Hoje, já chega perto de 50%. A longo prazo, deve-se chegar perto de 80%”.
De acordo com ele, a Solfácil será um dos players mais relevantes de financiamento no mercado de GD. “Queremos financiar alguns bilhões de reais nos próximos cinco anos. Já falando de curto prazo, nos próximos 12 meses, a ideia é financiar R$ 300 milhões”.
Investimentos
Segundo a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), em 2019 o setor de GD movimentou mais de R$6 bilhões, uma alta de 236% no número de instalações de sistemas fotovoltaicos em comparação com 2018. Já no primeiro semestre deste ano, esta alta foi de 90%, mesmo durante a pandemia da Covid-19.
De acordo com dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), mais de 15 bilhões de investimentos em GD foram acumulados desde 2012, distribuídos em todas as regiões e estados do Brasil.
REN 482
Para Carrara, os trâmites que estão ocorrendo na parte legislativa do Brasil, como a nova proposta da ANEEL para a alteração da Resolução Normativa 482, não devem afetar os financiamentos e investimentos em energia solar no país.
“O mercado de energia solar tem uma componente regulada, então o risco regulatório existe, mas acredito que não haverá grandes problemas. O setor vai continuar a crescer. Quando se tem inovação tecnológica, nada segura o desejo do consumidor. Acredito que painéis solares, baterias e carros elétricos vão estar em todas as casas no futuro. É só uma questão de tempo”, concluiu o executivo.