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Reciclagem de painéis: desafios para promover o segmento no Brasil

Leonardo Gasparini, CEO da SunR, destaca importância de tecnologias para o descarte efetivo dos módulos

Autor: 29 de julho de 2022dezembro 4th, 2022Entrevistas
5 minutos de leitura
Reciclagem de painéis: desafios para promover o segmento no Brasil

Trabalho de destinação correta dos painéis feito pela SunR. Foto: SunR/Divulgação

Em fevereiro de 2020, o Governo Federal assinou o decreto nº 10.240/2020, que obriga os fornecedores a arcarem com toda a logística reversa de produtos eletroeletrônicos caseiros, inclusive painéis fotovoltaicos, disponibilizando pontos de coleta e, posteriormente, dando fim correto àquele material.

Porém, o engenheiro Luiz Fernando Mendonça, coordenador de estudos de energia solar no Instituto de Energia da PUC-Rio, em entrevista ao #Colabora, ressaltou que o decreto contempla apenas os módulos instalados em residências. As usinas com maior potência, no caso, seguem sem legislação específica de descomissionamento.

Diante deste cenário, a energia solar tem um desafio a enfrentar: como promover a reciclagem de painéis no Brasil? Ou seja, a destinação correta dos módulos descartados, feitos de insumos como silício, alumínio, vidro e metais nobres como cobre e prata.

O Canal Solar conversou com Leonardo Gasparini, CEO da SunR, que discorreu sobre o assunto e destacou a importância do desenvolvimento de tecnologias para reciclar efetivamente os equipamentos fotovoltaicos.

Pilha de módulos descartados. Foto: SunR/Divulgação

Pilha de módulos descartados. Foto: SunR/Divulgação

Poderia comentar sobre a falta de uma logística reversa para painéis solares no Brasil?

Infelizmente, isso é um problema em todo o mundo. Um percentual muito baixo dos resíduos fotovoltaicos acabam sendo reciclados, inclusive no Brasil. O que não é reciclado, normalmente é destinado para aterros e coprocessamento. O que é uma pena, porque o módulo fotovoltaico é tão reciclável quanto uma latinha de alumínio.

Mercado de reciclagem de painéis FV valerá US$ 2,7 bilhões até 2030

Uma atenção maior à regulamentação da logística reversa é urgente? É preciso uma circularidade bem definida e estabelecida no processo dos módulos fotovoltaicos?

Acredito que o mais importante é regulamentar a responsabilidade do resíduo. Na SunR passamos muito tempo esperando nossos clientes definir quem é o responsável por esse descarte (seguradora, O&M, importador, transportadora, fabricante, vendedor, consumidor).

Falta responsabilidade dos governos em exigir a licença ambiental de uma usina solar que, no momento do planejamento, a empresa coloque o que será feito com o material no final?

Pela minha experiência com as usinas, isso não é um problema. Na maioria dos casos existe um engenheiro(a) ambiental responsável pela planta.

Os módulos têm vida útil de, em média, 25 anos. No Brasil, por se tratar de uma tecnologia recente, nenhum painel chegou ao fim de sua duração estimada. Apesar disso, os geradores de energia solar não são desmobilizados apenas quando não funcionam mais. Qual sua opinião?

Exatamente. Os equipamentos descartados hoje no Brasil não atingiram sua vida útil. Mas, existem muitos outros fatores que fazem com que eles atinjam. São eles:

  • Fabricação: no Brasil possuímos algumas montadoras de painéis solares. E, como em todo processo fabril, existem refugos e materiais que não passam no teste de qualidade;
  • Importação: ao recebermos containers desses materiais, existe sempre uma quantidade que não está conforme a qualidade esperada ou até quebrados. Com isso, normalmente as placas não são devolvidas aos países de origem por conta do custo logístico;
  • Transporte: já vimos muitas notícias de caminhões tombarem com equipamentos novos. Por estarem em locais mais remotos, o solo das usinas solares é muitas vezes irregular, causando acidentes com empilhadeiras e outros equipamentos. Na SunR, já recebemos muitos materiais com marcas dos garfos da empilhadeira;
  • Serviço: o serviço de instalação de sistemas fotovoltaicos nem sempre é de qualidade. Por ser um mercado que cresceu muito rápido, nem todos tiveram todos os treinamentos necessários e nem cumprem todas as normas de segurança, causando acidentes e trazendo riscos aos consumidores;
  • Externalidades: por mais resistente que o equipamento seja, sempre existem eventos extraordinários que danificam os módulos e estruturas. Na SunR já tivemos até casos de módulos atingidos por bala perdida;
  • Defeitos: como qualquer tipo de produto, existem aqueles que apresentam defeitos, seja na hora da instalação ou muito tempo depois.

Um estudo feito pela IRENA (Agência Internacional de Energia Renovável) em 2016 mostra que, na Europa, cerca de 7% dos módulos vendidos acabam sendo descartados antes de 15 anos de vida útil.

Módulo fotovoltaico danificado. Foto: SunR/Divulgação

Módulo fotovoltaico danificado. Foto: SunR/Divulgação

O país tem apenas a SunR, inaugurada há mais de dois anos, voltada exclusivamente à coleta e reciclagem de painéis solares. O que fazer para isso mudar? É preciso políticas públicas para contribuir com a promoção da reciclagem no país?

Acredito que sim. Mas políticas e incentivos estão surgindo para todo o mercado de reciclagem. No caso, penso que o mais importante seja a tecnologia para reciclar efetivamente este tipo de equipamento.

Por isso desenvolvemos o nosso próprio maquinário, que está em fases finais de testes. A ideia é poder abrir para visitas a partir da última semana de agosto.

Atualmente, já recebemos mais de 257 toneladas para reciclagem, vindo de oito estados diferentes, o que representa uma média de 2,86 MW.

Mateus Badra

Mateus Badra

Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020. Atualmente, é Analista de Comunicação Sênior do Canal Solar e possui experiência na cobertura de eventos internacionais.

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