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Reservatórios operarão com menos de 15% da capacidade em novembro

Brasil deve recorrer às usinas térmicas e a novo aumento da bandeira tarifária para amenizar os efeitos da crise hídrica
Hidrelétricas brasileiras não operam com mais de 80% de sua capacidade de armazenamento, durante o período chuvoso, há nove anos

O nível de capacidade dos reservatórios brasileiros atingirá níveis ainda mais críticos em novembro, por causa dos efeitos da crise hídrica. A afirmação foi feita por Christiano Vieira da Silva, secretário de energia elétrica do MME (Ministério de Minas e Energia), nesta terça-feira (17), em audiência pública realizada pela Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. “Devemos chegar em novembro, com os reservatórios operando a níveis muito baixos, com algo em torno de 11 a 14%. O histórico mínimo que nós atingimos nesse período foi em 2014, com 19% no sistema interligado”, disse ele. “Quando olhamos apenas para as condições da região Sudeste, estamos falando de chegar aos 8%”, revelou. Segundo ele, o cenário previsto considera a repetição do volume de chuvas registrado entre outubro e dezembro do ano passado. “Estamos imaginando o mesmo cenário em 2021, com chuvas escassas”, comentou. “É um cenário bastante adverso que estamos considerando. Se vier a chuva, teremos uma situação mais confortável”, ressaltou. Conforme dados do MME, as hidrelétricas brasileiras não operam com mais de 80% de sua capacidade de armazenamento, durante o período chuvoso, há nove anos. Em novembro do ano passado, no período seco, a capacidade beirava os 30%.

Medidas tomadas

Durante o encontro, o secretário disse que o cenário hídrico brasileiro é preocupante e que ações vêm sendo tomadas para evitar o risco de desabastecimento. Entre as medidas estão o acionamento das termelétricas e a compra de energia junto a países vizinhos, como Argentina e Uruguai. O executivo também pontuou que a Pasta diminuiu a vazão de água nas usinas de Jupiá e Porto Primavera; estabeleceu cotas mínimas de operação dos reservatórios das hidrelétricas de Ilha Solteira e Três Irmãos, e flexibilizou a operação dos reservatórios do Rio São Francisco. Segundo Silva, as ações foram tomadas para estocar recursos hídricos e garantir maior acionamento das termelétricas até o final do ano. “É preciso poupar água para poder ser usada nos momentos de maior necessidade do sistema, que é, basicamente, no final do período seco, em outubro e novembro”, disse ele. O secretário também citou outras ações que estão sendo tomadas, mas nenhuma envolve investimentos em renováveis. As principais medidas são campanhas de conscientização para uso consciente de água e luz, e a antecipação de usinas térmicas e de linhas de transmissão em construção desde maio deste ano.

Bandeiras tarifárias

A audiência pública da Câmara dos Deputados também contou com a participação de Elisa Bastos Silva, diretora da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), para falar sobre o aumento no valor das bandeiras tarifárias, que, somente em 2021, registrou três altas consecutivas. A executiva disse que entende que os aumentos prejudicam as finanças dos consumidores, sobretudo os menos favorecidos, mas reiterou que o país passa por um momento de escassez hídrica e que não restam alternativas se não cobrar um valor mais alto pelo uso da energia. “Estamos vivendo a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. Então, neste caso, as bandeiras tarifárias são uma forma de dar transparência a criticidade dessa situação”, afirmou. Apesar de não confirmar, Elisa deixou a entender que novos aumentos na bandeira vermelha 2 deverão acontecer ainda em 2021, já que os aumentos não estão conseguindo repor o custo do acionamento das usinas térmicas. Em julho, a entidade aprovou um reajuste de 52% na bandeira vermelha 2 e o preço subiu de R$ 6,24 para R$ 9,49 para cada 100 kWh consumidos. “Mesmo com a aprovação desses novos valores, ainda preocupa o risco de déficit nas contas bandeiras, devido ao aumento dos custos de geração”, comentou. “O valor que a gente cobra nas bandeiras, em tese, tem que ser suficiente para fazer frente a esse saldo, mas de janeiro até junho a gente já acumulou um saldo negativo de R$ 3 bilhões. Não aumentar a bandeira vermelha 2 significaria uma pressão tarifária nos reajustes de 2022”, ressaltou a diretora da ANEEL. Segundo Elisa, sem uma redução no consumo, os custos dos despachos das termelétricas devem chegar a mais de R$ 11 bilhões entre janeiro e novembro deste ano. “A depender da evolução do consumo, esses custos podem ser ainda maiores, por causa de novas medidas excepcionais, com geração térmica mais cara e importação de energia de países vizinhos”, destacou.

Renováveis

Durante o encontro, a diretora da ANEEL ainda destacou a importância das fontes renováveis na diversificação da matriz energética nacional, que em 2006 era 85% hidráulica e 14% térmica. “Hoje, a hidroeletricidade caiu para 62%, enquanto as térmicas respondem por 25%. Já as energias eólicas e solar, correspondem a 10% e 2%, respectivamente”, disse ela.

Leia também: Crise hídrica e alta na conta de luz impulsionam adesão dos brasileiros à energia solar

Para a executiva, o crescimento das duas fontes de energia limpa merece muito destaque. “Temos visto recordes consecutivos de geração eólica no Nordeste, em alguns momentos até ultrapassando a totalidade da demanda”, comentou. “Por outro lado, a geração solar fotovoltaica tem crescido, principalmente, nas soluções de geração distribuída. Além disso, deve crescer ainda mais nos próximos anos em projetos híbridos, em especial, em associações com parques eólicos já existentes”, ressaltou.

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Henrique Hein
Atuou no Correio Popular e na Rádio Trianon. Possui experiência em produção de podcast, programas de rádio, entrevistas e elaboração de reportagens. Acompanha o setor solar desde 2020.

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