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UFSC anuncia parceria para produção de hidrogênio verde

Acordo com a Cooperação Técnica Alemã investe na fabricação do H2V a partir da energia solar
6 minuto(s) de leitura

A UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em parceria com a Cooperação Técnica Alemã (na sigla alemã GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), vai investir R$ 12 milhões para a produção de energia elétrica, hidrogênio e amônia verdes.

O projeto será desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da universidade. A previsão é de que o potencial máximo de geração seja de 4,1 Nm3/h (normal metro cúbico por hora de hidrogênio verde) e produção máxima de 1 kg/h de amônia. 

A proposta do acordo é também usar um reator para a produção de amônia verde (NH3), produto comumente utilizado como fertilizante. Isso será possível a partir da junção do hidrogênio produzido pela energia solar combinado, em reação, com o nitrogênio. 

Além do reator, o projeto irá adquirir um eletrolisador e uma célula de combustível. Segundo o professor Ricardo Ruther, coordenador do Grupo Fotovoltaica da UFSC, o eletrolisador possibilita a produção do hidrogênio e o seu uso para gerar eletricidade ocorre na célula de combustível.

O aporte da Cooperação Alemã vai assegurar a obra do novo bloco do laboratório da UFSC, um prédio em construção que servirá como vitrine para a indústria da viabilidade e aplicação da tecnologia. Ademais, o instituto afirmou que a capacitação de professores, pesquisadores e estudantes também faz parte do escopo do acordo.

Tal cooperação faz parte do Projeto H2Brasil da GIZ, que trabalha em parceria com o MME (Ministério de Minas e Energia) pela expansão do mercado de H2V (hidrogênio verde) no país. 

O projeto incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias relacionadas ao H2V e seus derivados, apoia a realização de estudos e pesquisas sobre o tema, fomenta a educação profissional e também a implementação de plantas e laboratórios de produção do combustível sustentável.

De acordo com reportagem da revista Fapesp, por exemplo, há 520 projetos de usinas de hidrogênio no mundo. Além do programa que será criado na UFSC, uma usina da EDP utilizará energia fotovoltaica e terá capacidade para produzir 22,5 kg de hidrogênio por hora. O investimento previsto é de R$ 41,9 milhões.

UFSC anuncia parceria para produção de hidrogênio verde
Projeto piloto de usina solar com módulos bifaciais. Foto: Amanda Miranda/Jornalista da Agecom/UFSC

Aproveitamento do hidrogênio verde

Para Ruther, a curva de aprendizado com a tecnologia fotovoltaica serve como um espelho para o que pode vir a ser o aproveitamento do H2V (hidrogênio verde) a longo prazo.

“Esse assunto não é novo: pelo menos desde 2005 se fala sobre isso, mas naquela época as questões ambientais não pareciam uma pauta tão central quanto são hoje. Além disso, a produção bastante cara dificulta uma aplicação mais ampla”, disse.

O gás hidrogênio, que recebe o adjetivo de “verde” por conta da sustentabilidade da produção via eletrólise utilizando somente água e energia renovável, vem sendo pesquisado pelos principais países do mundo.

A consultoria internacional Bloomberg New Energy Finance apontou que a geração solar fotovoltaica é capaz de oferecer o H2V de baixo custo, o que fez com que o grupo de pesquisa da UFSC fosse um foco imediato de interesse de parceiros.

“Você pode usar o hidrogênio para, a partir dele, fazer diversas coisas, desde usá-lo numa célula combustível para convertê-lo de volta em eletricidade até ser usado como combustível. Por exemplo, os foguetes são todos movidos a hidrogênio”, ressaltou.

Hidrogênio verde no Brasil

O professor ainda destacou que questões geopolíticas também fazem com que o hidrogênio verde seja o assunto do momento no quesito geração de energia. Isso porque, além de toda a ênfase na questão ambiental, os países europeus são dependentes do gás natural russo, que teve o preço elevado e a disponibilidade reduzida, fatos que acabaram aumentando as expectativas para o composto.

“Esses investimentos são principalmente puxados pela Europa e mais especificamente pela Alemanha, que já tinha decidido desativar suas usinas nucleares e procurar um substituto para essa energia”, relatou.

“Existe, ainda, a urgência na substituição de uma matriz energética dependente do carvão, que é muito poluente. Outro elemento atrativo é a questão econômica. No estudo da Bloomberg New Energy Finance, o Brasil foi apresentado como o país onde o produto pode ser o mais barato do mundo em 2050”, enfatizou.

https://canalsolar.com.br/rio-de-janeiro-firma-acordo-para-viabilizar-projetos-de-hidrogenio-verde/

Para Markus Francke, diretor do Projeto H2Brasil da Cooperação Alemã, com seus grandes recursos solares e eólicos, o Brasil está muito bem posicionado para produzir H2V a custos muito competitivos.

“As iniciativas atualmente em andamento têm grande potencial para catalisar o processo de viabilização de toda a cadeia de valor do H2V, desde instituições acadêmicas de pesquisa e desenvolvimento, passando pelo setor industrial e comercial até o usuário final dessas tecnologias limpas”, comentou.

Segundo Ruther, a solução, no entanto, não responde somente a interesses de outros países. No Brasil, por exemplo, um impacto direto da utilização do hidrogênio verde pode ser a contribuição com a descarbonização da Amazônia, já que, na região, há sistemas isolados que utilizam combustível fóssil como fonte, gerando prejuízos ambientais.

“A proposta é testar isso tudo, produzir hidrogênio a partir da energia solar, aqui, no nosso ambiente super controlado, e avançar no conhecimento. A ideia é usar essa experiência e conhecimento e replicá-los nas centenas de mini redes espalhadas na região Amazônica, para atender a essa demanda local”, explicou.

Investimento público é essencial

O pesquisador contextualizou também que, hoje, a maior parte do hidrogênio que se produz é chamado de hidrogênio cinza porque vem de uma matriz de energia que não é renovável. “Atualmente, petróleo, gás natural e carvão respondem por 85% do consumo de energia do mundo”.

Os investimentos iniciais são altos, o que poderia ser um entrave imediato, mas ele destacou que isso também aconteceu lá atrás, quando a solar era vista como uma possibilidade utópica de mudança na matriz energética.

Para o mesmo, os aportes públicos, portanto, são essenciais para formar a base de um conhecimento que, em algum momento, será uma inovação acessível, como são os painéis solares, por exemplo.

“Nós já vimos isso acontecer com a fonte fotovoltaica e temos elementos para pensar que a mesma coisa vai acontecer com hidrogênio. Mas você precisa de recurso público, você precisa de investimento”, concluiu.

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Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

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