Mobilidade elétrica é mais competitiva do que combustíveis fósseis?

Com colaboração de Mateus Badra

Mesmo com os efeitos causados pela crise hídrica, com direito a aumentos expressivos no valor da conta de luz, a energia elétrica segue sendo uma fonte mais competitiva no mercado do que os combustíveis fósseis.

É o que aponta um levantamento feito pelo Canal Solar, com base em dados de órgãos independentes e vinculados ao Governo Federal, como a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Os números mostram que o preço médio do litro dos principais combustíveis do país disparou com os consecutivos reajustes por parte da Petrobras. No ano, o diesel já acumula alta de 65,3% nas refinarias. Já a gasolina subiu 73,4% no mesmo período, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE.

Na bomba, o valor da gasolina que chega até o consumidor final saltou de R$ 4,51 para R$ 6,71, entre os meses janeiro e novembro deste ano – um aumento de mais de 50%, segundo a ANP. Já o diesel saltou, no mesmo período, de R$ 3,67 para os atuais R$ 5,34 (alta de 45%). 

Na comparação com a conta de luz, o aumento foi bem maior: nos doze meses o custo pelo uso da eletricidade em empreendimentos residenciais aumentou 30%, segundo o IPCA, mesmo com todos os problemas relacionados a criação de uma nova bandeira tarifária – chamada ‘escassez hídrica’ – que é mais cara e perdurará até o final do mês de abril de 2022.

Maior eficiência 

Outro ponto que joga contra os combustíveis fósseis, é o fato de o preço do produto no Brasil estar diretamente ligado ao valor do barril no mercado internacional, que, além de estar acumulando consecutivas altas, sem perspectivas de queda, ainda é vinculado ao dólar, uma moeda mais valorizada que o real.

A iniciativa de vincular o preço de produtos como a gasolina ao valor da moeda norte-americana ocorreu no governo do ex-presidente Michel Temer, em outubro de 2016. Na ocasião, foi instituída a política de preços internacionais e iniciado o desmonte da Petrobrás, com reflexos negativos para o consumidor até hoje. 

Atualmente, de acordo com dados calculados pela Renault, o valor do km rodado de um carro à combustão no país é de R$ 0,49, enquanto o custo no veículo elétrico é de R$ 0,12. A média toma como base: um veículo a combustão com eficiência de 12 km/l; perdas de 10% no processo de recarga (bateria de 22 kWh) e o preço médio da gasolina no mês de outubro, em São Paulo (R$ 5,84), um dos mais baixos do país. 

Economia e sustentabilidade 

Além disso, um estudo recém-divulgado pela UCorp, uma startup brasileira de tecnologia e soluções de mobilidade, ainda apontou que os custos com um carro elétrico podem ser até 10 vezes menores do que os de um modelo equivalente a combustão. A análise comparou os custos de manutenção, eficiência e até emissão de CO2 de carros elétricos e a combustão.

Um dos destaques dos carros elétricos é a não emissão de gases de efeito estufa. Com isso, o ciclo de vida do veículo tem menos emissões de poluentes do que um modelo a combustão. 

De acordo com o estudo, um veículo a gasolina, por exemplo, emite, em média, 150 gramas de gás carbônico (CO2) por km rodado. Isso sem contar os demais gases poluentes emitidos durante o uso. Após 20 mil km rodados, um carro a combustão chega a produzir 3 toneladas de CO2, enquanto um elétrico emite apenas 70 kg.

Valor do tanque x recarga 

A análise feita pela UCorp também mostra que um carro convencional chega a ter em média 2,4 mil peças. No caso de um carro elétrico, esse número cai para cerca de 250, uma diferença que se reflete nos custos de manutenção. 

Outra vantagem dos carros elétricos são os custos de recarga. Segundo a análise, na hora de encher o tanque de veículo a combustão, o custo médio é de R$ 275,00. No caso de um carro elétrico, uma carga completa custa apenas R$ 22,44 – um valor que se torna ainda mais relevante em tempos em que o preço dos combustíveis ultrapassa os R$ 7 por litro.

Fim dos combustíveis fósseis? 

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP26, terminou no dia 13 de novembro deste ano, com a conclusão do texto final que foi aprovado pelos quase 200 países-membros. O documento prevê, entre outras questões, a redução das emissões de carvão e de gases poluentes, como os combustíveis fósseis. 

Os países-membros mais ricos também voltaram a se comprometer com os US$ 100 bilhões por ano até 2025 para o financiamento de medidas para evitar o aumento da temperatura média global, apostando em tecnologias de energia limpa e que não agridam o meio ambiente.