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Futuro da mobilidade elétrica depende da estruturação nos municípios

Especialistas afirmam ser necessário pontos de recarga em alta escala e políticas públicas para estimular o crescimento dos veículos elétricos
7 minuto(s) de leitura
14-07-21-canal-solar-Futuro da mobilidade elétrica depende da estruturação nos municípios
De acordo com Felipe Martins, gerente de mobilidade elétrica da NeoCharge, diversas políticas públicas podem ser aplicadas para estimular o crescimento dos veículos elétricos

Segundo estudo realizado pela BNEF (BloombergNEF), os VEs (veículos elétricos) representarão uma oportunidade de mercado de US$ 7 trilhões até 2030 e US$ 46 trilhões até 2050.

Inclusive, no Brasil, 2020 foi o melhor ano desse setor. Dados da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) apontaram um aumento de 66,5% nos emplacamentos em relação a 2019.

Montadoras de veículos, por exemplo, não ficaram de fora. A Volkswagen anunciou que iniciou a produção em série do caminhão elétrico e-Delivery, e a Volvo destacou que tem como meta comercializar apenas automóveis híbridos e elétricos a partir deste ano.

Saiba mais: Porsche firma parceria com EDP para uso de eletropostos no Brasil

E não para por aí. A cervejaria Ambev já fechou parceria com a startup brasileira FNM (Fábrica Nacional de Mobilidades) e com a montadora nacional Agrale para produção de mil VEs, incluindo caminhões e vans.

Portanto, quando o assunto é mobilidade elétrica a curva de crescimento está sendo acentuada. Mas, segundo Felipe Martins, gerente de mobilidade elétrica da NeoCharge, é cada vez mais importante que as cidades estejam preparadas para que os carros eletrificados sejam mais acessíveis aos consumidores. 

“A transformação necessária para o futuro da mobilidade elétrica depende da estruturação nos municípios, o que significa possuírem pontos de recarga em alta escala – a exemplo do que são os postos de combustíveis, hoje em dia. Para isso, é necessário investimento tanto do setor público quanto privado – este segundo em comércios, hotéis, aeroportos, entre outros”, explicou.

Políticas públicas

De acordo com o especialista, diversas políticas públicas podem ser aplicadas para estimular o crescimento dos VEs, em todos os níveis do Poder (federal, estadual e municipal). “Os incentivos podem ter como foco a produção, beneficiando fabricantes de produtos relacionados a carros elétricos ou a demanda, com ações voltadas aos consumidores”. 

“Para as empresas do setor, o governo é capaz de oferecer estímulos como subsídios e isenções fiscais para fomentar a fabricação de automóveis ou acessórios, além de estabelecer metas de produção”, apontou.

Já aos compradores de veículos elétricos, Martins afirmou que algumas possíveis vantagens são as taxas reduzidas no momento da compra, isenção ou desconto em tributos (como o IPVA), dispensa de cumprimento de rodízio (considerando também que eletrificados são menos poluentes) ou até mesmo a permissão para circular em áreas restritas, como as faixas de ônibus.

“Os incentivos governamentais no Brasil ainda são tímidos. Como exemplos, podemos citar alguns estados que dispõem de benefícios fiscais como isenção ou redução de impostos. Em outras frentes, algumas cidades brasileiras já adotaram o livre acesso a corredores de ônibus e permitiram a isenção de rodízio, como é o caso da cidade de São Paulo”, ressaltou. 

Vantagens dos veículos elétricos

Segundo o gerente da NeoCharge, os VEs são fundamentais para o cumprimento das metas de redução de emissão de carbono conforme determinação do Acordo de Paris (COP21). “É comprovado que um carro elétrico reduz pelo menos 30% de emissão em uma matriz de alto carbono e 70% em uma matriz de baixo carbono”.

“Além das vantagens ecológicas, também trazem praticidade e eficiência na logística. Do ponto de vista de cadeia produtiva, faz muito mais sentido produzir energia e transportá-la em cabos de transmissão do que perfurar o oceano, extrair um líquido, levar a uma refinaria e depois de tratá-lo para distribuir por meio de caminhões tanques para postos de combustível”, pontuou. 

O executivo enfatizou ainda que, no passado, o carro elétrico não era uma opção viável, pois a tecnologia da bateria era atrasada, cara e não possuía capacidade de armazenamento suficiente para mover um veículo por longas distâncias.

“Mas, agora, estamos em uma nova era e a autonomia de um veículo elétrico já não é mais um problema. Os mesmos são uma alternativa aos convencionais, já são uma realidade”, destacou.

Saiba mais: Vendas de VEs devem ultrapassar as de carros a combustão até 2035

Projetos de mobilidade elétrica

Será que os estados, empresas e entidades estão se estruturando para instalar projetos sustentáveis?  A Agesolar (Associação Regional de Energia Solar do Rio Grande do Sul), por exemplo, já lançou um programa cujo objetivo é estruturar um corredor de mobilidade elétrica no território brasileiro e incentivar o uso de fontes não poluentes.

O Nordeste também está seguindo essa premissa. A Neonergia realizou em maio a entrega dos primeiros pontos de recarga que integram o programa Corredor Verde – a primeira eletrovia de da região. De acordo com a companhia, serão 18 eletropostos instalados. 

Saiba mais: Plataforma de moradia investe em serviços de recarga para veículos elétricos

A via vai permitir aos motoristas se deslocarem por seis estados nordestinos: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ao total, o corredor, que possui 1.200 quilômetros de extensão – uma das maiores do Brasil – passará por 70 municípios.

Pontos de recarga para veículos elétricos são entregues pela Neonergia no Nordeste

“O Corredor Verde da Neoenergia é uma iniciativa inovadora de estímulo à sustentabilidade. O projeto oferece à sociedade uma alternativa possível para contribuir com o combate às mudanças climáticas. Incentivar a mobilidade elétrica significa reduzir a emissão de gases de efeito estufa por meio da descarbonização da frota de veículos”, destacou José Brito, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa. 

Enquanto isso, em solo nacional, a cidade de São Paulo já implementou uma lei que determina que toda construtora deve planejar seus prédios com pontos de recarga disponíveis para automóveis elétricos. “Se o futuro será elétrico, faz todo sentido os condomínios estarem prontos para receber esses veículos”, disse Felipe Martins. 

Mobilidade elétrica no exterior

Na Noruega, por exemplo, a cada 2 carros um já é elétrico, segundo relatório da IEA (Agência Internacional de Energia), e, 80% das recargas são feitas nas próprias residências.

Outro caso citado pelo representante da NeoCharge está na China, local em que já há alta circulação de VEs, não apenas de forma privada, mas no transporte público também.

Ou seja, na opinião do especialista, para que as cidades e países avancem mais rapidamente em mobilidade elétrica, governos também podem auxiliar promovendo incentivos fiscais para que o setor se desenvolva e que os carros elétricos sejam mais baratos e acessíveis à população.

“Afinal, esse subsídio de imposto será retornado com mais qualidade de vida dos cidadãos e maior eficiência econômica das regiões que tiverem uma boa estrutura para receber os VEs”, concluiu. 

Integração da solar com VEs

Para Daniel Huber, vice-presidente e gerente geral da SolarEdge para LATAM, APAC e EMEA, a transição para a mobilidade elétrica terá impacto tanto na rede quanto no consumo de energia doméstico. 

“O aumento da carga de VEs pode causar uma sobrecarga devido à alta e contínua demanda. Já para as residências, o carregamento de carros eletrificados pode se tornar uma das principais cargas, fazendo com que as contas de eletricidade aumentem”, disse.

“Por outro lado, o aumento de instalações fotovoltaicas tem causado novos estresses na rede elétrica, tais como produção intermitente e rampas de consumo ao fim do dia. Entretanto, ao integrar os VEs e fonte solar em uma única solução, alcançamos vários benefícios para ambos os mercados”, relatou. 

De acordo o executivo, isto inclui custos de vida útil reduzidos com um valor de aquisição menor, aceleração do segmento, menor estresse na rede com carregamento smart e uma fonte de carregamento de automóveis 100% elétricos mais sustentável, limitando os efeitos da mudança climática”, finalizou. 

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Mateus Badra
Jornalista graduado pela PUC-Campinas. Atuou como produtor, repórter e apresentador na TV Bandeirantes e no Metro Jornal. Acompanha o setor elétrico brasileiro desde 2020.

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